É verdade que a nossa fé é cega?
03/10/25
A nossa fé católica é cega? Ela nos é
imposta pela Igreja? Somos por acaso proibidos de investigar os fundamentos de
nossa fé?
“O católico brasileiro já não raciocina com a
cabeça alheia, já não aceita o regime da fé cega, imposta pela Igreja, que nega
até o direito de procurar-lhe os fundamentos”.
Não é certamente a declaração de um verdadeiro e
sincero católico brasileiro, mas desses católicos que o são apenas de nome, e
que na realidade são espíritas, isto é, anticatólicos. Temos aí três acusações
a serem tomadas em consideração: a)
que a nossa fé católica é cega; b)
que ela nos é imposta pela Igreja; e c) que somos proibidos de investigar os fundamentos de nossa fé.
Vejamos tudo isso.
Primeira acusação: É cega a fé dos católicos? Pode esta
cegueira ou obscuridade referir-se a duas coisas: ou ao objeto de fé, ou aos seus
motivos. Se os espíritas querem dizer que é cega a nossa fé porque cremos sem
motivos suficientes, então estão erradíssimos e mostram grande ignorância.
Falaremos logo mais sobre isso. Mas se eles pensam que a nossa fé é
cega porque é obscuro seu objeto, aí eles têm razão. Isso,
todavia, de modo nenhum pode ser censurado. É essencial à fé.
É por isso que o crer se contrapõe ao ver.
Quantas coisas nós cremos sem ver e só por testemunho humano! Irrazoável,
blasfemo e pecaminoso seria não crer na palavra de Deus, apesar de saber
que Deus falou e que é infinitamente sábio e veraz.
Segunda acusação: A
fé nos é imposta pela Igreja? Absolutamente não! A Igreja apenas
continua a missão de Cristo e dos Apóstolos: “Ide, ensinai a todas as gentes a
observar tudo o que vos tenho mandado” (Mt 28,
20); “quem crer e for batizado, será salvo; quem não crer, será condenado” (Mc 16, 16).
O
ato de fé deve ser sempre livre e espontâneo da parte de quem o aceita.
Cumprindo esta sua missão, a Igreja propõe a
doutrina e os mandamentos de Cristo. O ato de fé deve ser sempre livre e
espontâneo da parte de quem o aceita. Queres salvar-te? — pergunta a Igreja ao
homem. — Então crê o que Cristo ensinou. Não queres crer? Não te obrigo contra
tua vontade; mas não te salvarás… “Quem não crer será condenado”. É
palavra de Cristo, do Salvador e não da Igreja. Ela apenas repete.
Terceira acusação: Somos proibidos de procurar os fundamentos
de nossa fé? Isso é repetido mil vezes pelos espíritas, ou porque
são ignorantes, ou porque querem caluniar.
Dizem que nós não pensamos nem estudamos; que nós
cremos sem nada examinar, sem verificar o conteúdo da nossa fé; que qualquer
indagação um pouco mais aprofundada dos nossos dogmas teria como resultado uma
mão cheia de verdades quebradas, desconexas, contraditórias, irracionais etc.;
que, portanto, nós aceitamos as ideias mais abstrusas, não nos preocupando nem
com a lógica, nem com o bom senso, nem tendo a menor ideia das recentes
descobertas feitas pelas ciências exatas; que nós nos entrincheiramos
pertinazmente atrás dos dogmas, tendo um pavor imenso de qualquer pessoa que
sabe pensar e cerrando obstinadamente os olhos para não ver os resultados dos
estudos modernos.
Assim podemos ler em Leão Denis que a Igreja
Romana, durante quinze séculos, sufocou o pensamento; que ela sempre se
esforçou por impedir o homem de usar do direito de pensar; que ela se nos
apresenta despoticamente com as palavras “crê e não raciocines; ignora e
submete-te; fecha os olhos e aceita o jugo” (Cristianismo e Espiritismo, 50.ª ed., p. 126s).
Mas a verdade é que a Igreja, desde o
princípio, tem favorecido de todos os modos o estudo sério e aprofundado das
verdades da fé.
Quanto
mais penetramos nas verdades que Deus se dignou nos revelar, tanto mais nos
sentimos seguros de abraçar a verdade.
Homens houve, inteligentes, sérios e santos, em
todos os tempos, que, amparados e fomentados pela Igreja, dedicaram a
vida inteira ao estudo das verdades da fé. A ciência que se dedica a este
estudo chama-se teologia.
E só o ignorante em história pode repetir as acusações ineptas de Denis.
Nunca a Igreja proibiu ou impediu a investigação
séria da fé. Os livros para estudar as bases da fé católica
estão à disposição de todos. E a Igreja insiste mesmo nestes estudos. Pois ela
bem conhece a admoestação do Príncipe dos Apóstolos: “Guardai santamente em
vossos corações a Cristo Senhor, sempre prontos a satisfazer a quem quer que
vos peça razões da esperança que vos anima” (1Pd 3, 15).
E quanto mais penetramos nas verdades que
Deus se dignou nos revelar, tanto mais nos sentimos seguros de abraçar a
verdade; quanto mais estudamos sobre os dados da fé, tanto mais exultamos
na santa alegria de filhos de Deus; quanto mais enfrentamos as objeções que a
impiedade e o orgulho dos homens sem fé nos lança em rosto, tanto mais nos
vemos confirmados naquilo que Deus realmente nos falou.
Não! Não temos motivos para envergonhar-nos da
nossa fé, nem precisamos temer os ataques da incredulidade. Não é a
verdadeira ciência que conduz os homens à apostasia: é a falta de estudos
sérios, é a vida desregrada, é o coração desprendido de Deus e demasiadamente
apegado aos bens passageiros que leva à perda da fé e à incredulidade.
Nunca
a Igreja proibiu ou impediu a investigação séria da fé. Os livros para estudar
as bases da fé católica estão à disposição de todos.
A inteligência esclarecida, o coração reto e a vida
imaculada só podem levar a Deus e à fé em Deus. Não, a nossa fé não é
irracional nem nos proíbe o raciocínio. Não, a Igreja não impede o
estudo, nem cremos que algum dos nossos leitores jamais terá recebido
semelhante proibição.
Se há católicos que não mostram interesse por sua
fé; se existem até intelectuais que se dizem católicos e que desconhecem as
noções mais elementares de sua fé, a culpa não será da Igreja que lhes proibiu
esse estudo ou lhes sonegou os necessários livros, mas a culpa será deles
mesmos: o seu desinteresse pelas coisas santas e a sua negligência em se
instruir é que são os únicos responsáveis.
Um última acusação: Mas a Igreja proíbe até a leitura da Bíblia!
Falsíssimo. Semelhante afirmação, além de implicar uma injuriosa calúnia, é
outro atestado de grande ignorância. A Igreja até recomenda
vivamente a leitura diária da Sagrada Escritura.
Eis algumas recomendações de alguns Papas: “Os mais
preciosos serviços”, diz Bento XV, “são prestados à causa católica por aqueles
que, em diferentes países, puseram e põem ainda o melhor de seu zelo em editar,
sob formato cômodo e atraente, e em difundir os livros do Novo Testamento e uma
seleção dos livros do Antigo” [1]. E um pouco antes dissera: “Nunca cessaremos
de exortar todos os cristãos a fazerem sua leitura cotidiana principalmente dos
santíssimos Evangelhos de Nosso Senhor” [2].
E Pio XII admoesta aos Bispos que “favoreçam e
auxiliem as associações que têm por fim difundir entre os fiéis exemplares da
Sagrada Escritura, particularmente dos Evangelhos, e procurar que nas famílias
cristãs se leiam regularmente todos os dias com piedade e devoção” [3].
Referências
1. Bento XV, Encíclica “Spiritus
Paraclitus”, de 15 set. 1920: “Eodem in genere optime de re
catholica merentur illi e variis regionibus viri, qui omnes Novi Testamenti et
selectos e Vetere libros commoda ac nitida forma edendos et evulgandos
perdiligenter curarunt et in praesenti curant” (AAS 12 [1920] 406).
2. Id., ibid: “[…]
Christifideles omnes […] cohortari numquam desinemus, ut sacrosancta praesertim
Domini Nostri Evangelia […] cotidiana lectione pervolutare […] studeant” (AAS 12 [1920] 405-406).
3. Pio XII, Encíclica “Divino Afflante Spiritu”,
de 30 set. 1943, n. 26: “Faveant igitur atque auxilium praestent piis illis
consociationibus, quibus propositum sit Sacrarum Litterarum, Evangeliorum
potissimum, edita exemplaria inter fideles diffundere, eorumque cotidiana
lectio studiosissime curare ut in christianis familiis rite sancteque fiat” (AAS 35 [1943] 321).
Notas
- Extraído e levemente adaptado de Fr. Boaventura Kloppenburg, Resposta
aos Espíritas. Rio de Janeiro: Vozes, 1954, pp. 9-12.
(via Pe. Paulo Ricardo)
Edição Portuguese
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