Mãe, eu tenho que ir
18/08/25
Não importa o que eu faça, não importa
onde eu esteja, você sempre será a base de tudo. Mas eu preciso crescer, mãe, é
hora de ir.
Talvez você demore a compreender, talvez você chore
incontáveis noites por ver o ninho vazio, talvez você me ligue com aquela voz
embargada, sofrida, de quem está guardando um mundo de saudade em um nó na
garganta, mas mãe, eu tenho que ir.
Tenho que aprender a separar a roupa por cores na
hora de lavar, tenho que descobrir que a louça continua na pia no dia seguinte,
que cheiro de banheiro limpo é bom, principalmente quando fui eu que limpei.
Tenho que aprender a cozinhar mais coisas além de
macarrão com salsicha, conto com a internet para me ajudar com isso. Tenho que
aprender que o meu salário precisa durar 30 dias e que balada e cerveja não são
lá as necessidades mais básicas.
Tenho que me sentir só, tenho que falar para as
outras pessoas “minha mãe sempre diz que…” e sentir orgulho dos inúmeros
conselhos que você me deu na vida e nem sempre eu dei muito valor. Tenho que
identificar as amizades ruins, coisa que você fazia por mim antes, tenho que
ser forte e segurar aquele palavrão que o meu chefe merecia, mas você me
ensinou que um profissional sério não sai de si tão facilmente.
Tenho que criar meus próprios ritos de sábado à
tarde, que antes eram fazer bolo e dançar loucamente na cozinha com você. Tenho
que tirar o pijama aos domingos, fazer almoço, fazer o jantar e não
simplesmente ler um livro enquanto espero que você faça tudo por mim.
Tenho que assistir àquele filme incrível sem
companhia e não ter ninguém pra chorar timidamente comigo, tenho que sentir
falta do abraço que era a fortaleza de que eu precisava em um dia ruim, e da
sinceridade que me ensinava a ser um ser humano melhor todos os dias.
Mas não pense que é fácil para mim, vai doer todos
os dias da minha vida não voltar para casa e ver seu sorriso tranquilo, poder
contar cada detalhe do dia e não sentir um mínimo sinal de tédio no seu rosto.
Vou sentir saudade mesmo quando eu tiver dois
filhos, mesmo quando eu tiver oitenta anos, mesmo quando eu tiver escrito o
melhor livro da história.
Preciso ir, mãe, mas te levo sempre comigo.
(via Obvious)
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