A maneira surpreendente que Jesus escolheu para ressuscitar dos mortos: Papa reflete
01/10/25
"Ele oferece suas feridas como
garantia de perdão. E mostra que a Ressurreição não é o apagamento do passado,
mas sua transfiguração em esperança de misericórdia."
Dando continuidade ao seu ciclo de catequeses sobre
a esperança que Cristo nos dá, o Papa Leão refletiu na audiência geral deste 1º
de outubro sobre a ressurreição.
O Santo Padre falou sobre a maneira
"surpreendente" que Jesus escolheu para ressuscitar dos mortos,
tirando de suas ações uma lição para nossa própria maneira de lidar com traumas
ou com aqueles que nos machucaram.
Jesus está agora plenamente reconciliado com tudo o
que sofreu. Não há sombra de ressentimento. As feridas não servem para
repreender, mas para confirmar um amor mais forte do que qualquer infidelidade.
Elas são a prova de que, mesmo no momento do nosso fracasso, Deus não recuou.
Ele não desistiu de nós.
Aqui está uma tradução completa
de seus ensinamentos:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O centro da nossa fé e o coração da nossa esperança
estão firmemente enraizados na ressurreição de Cristo. Quando lemos os
Evangelhos com atenção, percebemos que este mistério é surpreendente não apenas
porque um homem – o Filho de Deus – ressuscitou dos mortos, mas também pela
maneira como decidiu fazê-lo. De fato, a ressurreição de Jesus não é um triunfo
bombástico, nem é vingança ou retaliação contra seus inimigos. É um testemunho
maravilhoso de como o amor é capaz de ressurgir após uma grande derrota para
continuar sua jornada imparável.
Quando nos levantamos após um trauma causado por
outros, muitas vezes a primeira reação é a raiva, o desejo de fazer alguém pagar
pelo que sofremos. O Ressuscitado não reage dessa maneira. Ao emergir do
submundo da morte, Jesus não se vinga. Ele não retribui com gestos de poder,
mas com mansidão manifesta a alegria de um amor maior que qualquer ferida e
mais forte que qualquer traição.
O Ressuscitado não sente necessidade de reiterar ou
afirmar sua própria superioridade. Ele aparece aos seus amigos – os discípulos
– e o faz com extrema discrição, sem forçar o ritmo de sua capacidade de
aceitação. Seu único desejo é retornar à comunhão com eles, ajudando-os a
superar o sentimento de culpa. Vemos isso muito bem no Cenáculo, onde o Senhor
aparece aos seus amigos que estão encerrados no medo. É um momento que expressa
um poder extraordinário: Jesus, depois de descer aos abismos da morte para
libertar aqueles que ali estavam presos, entra no quarto fechado daqueles que
estão paralisados pelo medo,
trazendo-lhes um dom que ninguém ousaria esperar: a paz.
Sua saudação é simples, quase comum: “ A paz esteja convosco! ” ( Jo 20,19). Mas é acompanhada
por um gesto tão belo que chega a ser desconcertante: Jesus mostra aos
discípulos as mãos e o lado, com as marcas da paixão. Por que mostrar suas
feridas àqueles que, naquelas horas dramáticas, o haviam negado e abandonado?
Por que não esconder aqueles sinais de dor e evitar reabrir a ferida da
vergonha?
No entanto, o Evangelho diz que, ao verem o Senhor,
os discípulos se alegraram (cf. Jo 20,20). A razão é profunda: Jesus está agora
plenamente reconciliado com tudo o que sofreu. Não há sombra de ressentimento.
As feridas não servem para censurar, mas para confirmar um amor mais forte do
que qualquer infidelidade. Elas são a prova de que, mesmo no momento do nosso
fracasso, Deus não recuou. Ele não desistiu de nós.
Desta forma, o Senhor se mostra nu e indefeso. Ele
não exige, não nos obriga a pedir resgate. O Seu é um amor que não humilha; é a
paz de quem sofreu por amor e agora pode finalmente afirmar que valeu a pena.
Em vez disso, muitas vezes mascaramos nossas
feridas por orgulho ou por medo de parecermos fracos. Dizemos: "Não
importa", "Está tudo no passado", mas não estamos
verdadeiramente em paz com as traições que nos feriram. Às vezes, preferimos
esconder nosso esforço de perdoar para não parecermos vulneráveis e corrermos o risco de sofrer novamente. Jesus não
faz isso. Ele oferece suas feridas como garantia de perdão. E mostra que a
Ressurreição não é o apagamento do passado, mas sua transfiguração em esperança
de misericórdia.
Então, o Senhor repete: “A paz esteja convosco!”. E
acrescenta: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio” (v. 21). Com
estas palavras, confia aos apóstolos uma tarefa que não é tanto um poder, mas
uma responsabilidade: ser instrumentos de reconciliação no mundo. Como se
dissesse: “Quem poderá proclamar o rosto misericordioso do Pai, senão vós, que
experimentastes o fracasso e o perdão?”
Jesus sopra sobre eles e lhes dá o Espírito Santo
(v. 22). É o mesmo Espírito que o sustentou na obediência ao Pai e no amor até
a cruz. A partir daquele momento, os apóstolos não poderão mais ficar em
silêncio sobre o que viram e ouviram: que Deus perdoa, eleva e restaura a
confiança.
Este é o cerne da missão da Igreja: não exercer
poder sobre os outros, mas comunicar a alegria daqueles que são amados
justamente quando não o mereciam. É a força que deu origem às comunidades
cristãs e as fez crescer: homens e mulheres que descobriram a beleza de
retornar à vida para poder dá-la aos outros.
Queridos irmãos e irmãs, nós também somos enviados.
O Senhor nos mostra suas chagas e diz: A paz esteja convosco . Não tenham medo de mostrar suas
feridas curadas pela misericórdia. Não tenham medo de se aproximar daqueles que
estão presos no medo ou na culpa. Que o sopro do Espírito nos torne também
testemunhas dessa paz e desse amor que é mais forte do que qualquer derrota.
Edição Inglês
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