Igreja

Não precisamos nos apressar para ressuscitar: Papa Leão

17/09/25

Jesus no túmulo é "o Deus que deixa fazer, que espera, que se retira para nos deixar a liberdade".

Retomando uma reflexão singular sobre o Sábado Santo, o Papa Leão considerou neste 17 de setembro o dia anterior à Ressurreição como um dia de descanso.

"Agora, também o Filho, depois de completar a sua obra de salvação, descansa", disse o Papa. "Ele é o Deus que deixa fazer, que espera, que se retira para nos deixar a liberdade."

Ele convidou os fiéis a ver neste exemplo um convite para desacelerar, ficar em silêncio, esperar.

O Sábado Santo nos convida a descobrir que a vida nem sempre depende do que fazemos, mas também de como sabemos despedir-nos do que pudemos fazer.

O foco no Sábado Santo é uma continuação da série de audiências do Papa Leão sobre momentos específicos da Paixão.

Aqui está uma tradução completa do seu discurso de hoje:

Queridos irmãos e irmãs,

Em nossa jornada de catequese sobre Jesus, nossa esperança, hoje contemplaremos o mistério do Sábado Santo. O Filho de Deus jaz no sepulcro. Mas essa sua “ausência” não é um vazio: é uma expectativa, uma plenitude contida, uma promessa mantida na obscuridade. É o dia do grande silêncio, em que o céu parece mudo e a terra imóvel, mas é precisamente ali que se realiza o mistério mais profundo da fé cristã. É um silêncio carregado de significado, como o ventre de uma mãe que carrega seu filho ainda não nascido, mas já vivo.

O corpo de Jesus, descido da cruz, é cuidadosamente envolto, como se faz com algo precioso. João Evangelista nos conta que ele foi sepultado num jardim, dentro de “um sepulcro novo, onde ninguém jamais havia sido posto” ( Jo  19,41). Nada é deixado ao acaso. Aquele jardim evoca o Éden perdido, o lugar onde Deus e o homem se uniram. E aquele sepulcro, nunca usado, fala de algo que ainda está por acontecer: é um limiar, não um fim. No início da criação, Deus plantou um jardim; agora, a nova criação também começa num jardim: com um sepulcro fechado que em breve será aberto. 

O Sábado Santo também é um dia de descanso. Segundo a Lei judaica, nenhum trabalho deve ser feito no sétimo dia: de fato, após os seis dias da criação, Deus descansa (cf.  Gn  2,2). Agora, também o Filho, após completar sua obra de salvação, descansa. Não porque esteja cansado, mas porque amou até o fim. Não há mais nada a acrescentar. Este descanso é o selo da tarefa concluída; é a confirmação de que o que deveria ter sido feito foi verdadeiramente realizado. É um repouso repleto da presença oculta do Senhor.

Lutamos para parar e descansar. Vivemos como se a vida nunca fosse suficiente. Apressamo-nos para produzir, para nos provar, para nos manter. Mas o Evangelho nos ensina que saber parar é um ato de confiança que devemos aprender a praticar. O Sábado Santo nos convida a descobrir que a vida nem sempre depende do que fazemos, mas também de como sabemos despedir-nos do que conseguimos fazer.

No sepulcro, Jesus, a Palavra viva do Pai, está em silêncio. Mas é precisamente nesse silêncio que a nova vida começa a fermentar. Como uma semente na terra, como a escuridão antes do amanhecer. Deus não tem medo do tempo que passa, porque é também o Deus da espera. Assim, mesmo o nosso tempo “inútil”, o das pausas, do vazio, dos momentos estéreis, pode tornar-se o ventre da ressurreição. Cada silêncio acolhido pode ser a premissa de uma nova Palavra. Cada tempo suspenso pode tornar-se um tempo de graça, se o oferecermos a Deus.

Jesus, sepultado na terra, é o rosto manso de um Deus que não ocupa todo o espaço. Ele é o Deus que deixa as coisas acontecerem, que espera, que se retira para nos deixar a liberdade. Ele é o Deus que confia, mesmo quando tudo parece acabado. E nós, naquele sábado suspenso, aprendemos que não precisamos ter pressa para ressuscitar; primeiro, precisamos ficar e acolher o silêncio, deixar-nos abraçar pela limitação. Às vezes, buscamos respostas rápidas, soluções imediatas. Mas Deus trabalha em profundidade, no tempo lento da confiança. O sábado do sepultamento torna-se assim o ventre do qual pode brotar a força de uma luz invencível, a da Páscoa.

Caros amigos, a esperança cristã não nasce do ruído, mas do silêncio de uma espera repleta de amor. Não é fruto da euforia, mas do abandono confiante. A Virgem Maria nos ensina isso: ela encarna essa espera, essa confiança, essa esperança. Quando nos parece que tudo está parado, que a vida é um caminho bloqueado, lembremo-nos do Sábado Santo. Mesmo no túmulo, Deus preparava a maior surpresa de todas. E se soubermos acolher com gratidão o que aconteceu, descobriremos que, precisamente na pequenez e no silêncio, Deus ama transfigurar a realidade, renovando todas as coisas com a fidelidade do seu amor. A verdadeira alegria nasce da espera interior, da fé paciente, da esperança de que o que foi vivido no amor certamente se elevará à vida eterna.

 

Edição Inglês

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