Igreja

O Papa Leão reflete sobre “Ele desceu aos mortos”

24/09/25

O Papa Leão considerou novamente o Sábado Santo, particularmente onde Cristo estava naquele dia.

Dando continuidade ao seu ciclo de catequeses de quarta-feira sobre a Paixão de Jesus e a esperança que ela nos dá, o Papa Leão considerou novamente o Sábado Santo, particularmente onde Cristo estava naquele dia.

Como explica o Credo dos Apóstolos : "Ele foi crucificado, morreu e foi sepultado. Desceu aos mortos. Ressuscitou ao terceiro dia."

O Papa refletiu sobre o que significa esta viagem “aos mortos”:

O submundo, na concepção bíblica, não é tanto um lugar, mas sim uma condição existencial: aquela condição em que a vida se esgota, e reinam a dor, a solidão, a culpa e a separação de Deus e dos outros. Cristo nos alcança mesmo neste abismo.

Aqui está uma tradução completa da reflexão do Santo Padre:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, mais uma vez, contemplaremos o mistério do Sábado Santo. É o dia do Mistério Pascal em que tudo parece imóvel e silencioso, enquanto na realidade se realiza uma ação invisível de salvação: Cristo desce ao reino dos mortos para trazer a notícia da Ressurreição a todos aqueles que estavam nas trevas e na sombra da morte.

Este acontecimento, que a liturgia e a tradição nos transmitiram, representa o gesto mais profundo e radical do amor de Deus pela humanidade. De fato, não basta dizer ou crer que Jesus morreu por nós: é necessário reconhecer que a fidelidade do seu amor nos procurou onde nós mesmos estávamos perdidos, onde só o poder de uma luz capaz de penetrar o reino das trevas pode alcançar.

O submundo, na concepção bíblica, não é tanto um lugar, mas sim uma condição existencial: aquela condição em que a vida se esgota, e reinam a dor, a solidão, a culpa e a separação de Deus e dos outros. Cristo nos alcança mesmo neste abismo, atravessando os portões deste reino de trevas. Ele entra, por assim dizer, na própria casa da morte, para esvaziá-la, para libertar seus habitantes, tomando-os pela mão um a um. É a humildade de um Deus que não se detém diante do nosso pecado, que não se atemoriza diante da extrema rejeição do ser humano.

O apóstolo Pedro, no breve trecho da sua primeira Carta que acabamos de ouvir, conta-nos que Jesus, vivificado no Espírito Santo, foi levar a notícia da salvação também «aos espíritos em prisão» ( 1Pe  3, 19). Trata-se de uma das imagens mais comoventes, que se encontra expressa não nos Evangelhos canónicos, mas num texto apócrifo intitulado Evangelho de Nicodemos. Segundo esta tradição, o Filho de Deus penetrou nas trevas mais profundas para alcançar também o último dos seus irmãos e irmãs, para fazer descer também ali a sua luz. Neste gesto está toda a força e a ternura da mensagem pascal: a morte nunca é a última palavra.

Caros amigos, esta descida de Cristo não se refere apenas ao passado, mas toca a vida de cada um de nós. O submundo não é apenas a condição dos mortos, mas também daqueles que vivem a morte como resultado do mal e do pecado. É também o inferno diário da solidão, da vergonha, do abandono e da luta da vida. Cristo entra em todas essas realidades obscuras para testemunhar o amor do Pai. Não para julgar, mas para libertar. Não para culpar, mas para salvar. Ele o faz silenciosamente, na ponta dos pés, como alguém que entra num quarto de hospital para oferecer conforto e ajuda.

Os Padres da Igreja, em páginas de extraordinária beleza, descreveram este momento como um encontro: o encontro entre Cristo e Adão. Um encontro que é o símbolo de todos os encontros possíveis entre Deus e o homem. O Senhor desce onde o homem se escondeu por medo e o chama pelo nome, toma-o pela mão, levanta-o e o traz de volta à luz. Ele o faz com plena autoridade, mas também com infinita doçura, como um pai com o filho que teme não ser mais amado.

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