O fascinante simbolismo do incenso, o perfume do sol
30/09/25
Os
antigos acreditavam que o incenso nascia do sol, do fogo. Também morria pelo
fogo quando queimado no altar
Eu adoro pesquisar vídeos on-line de monges fazendo
incenso com suas receitas supersecretas e especiais que foram transmitidas de
irmão para irmão nos mosteiros desde tempos desconhecidos. O cuidado com
que eles o fabricam revela o quão especial o incenso realmente é e quão vital
se configura para a nossa adoração.
É um processo pacífico e sagrado ver um monge
misturando incenso silenciosamente em algum anexo do mosteiro. Quando o
queimo no altar durante a Missa, sempre aprecio o resultado.
A fragrância calmante e o efeito que ele causa em
quem sente o seu cheiro são difíceis de explicar. Quando estou na Missa,
meus batimentos cardíacos diminuem um pouco e o peso do mundo sai dos meus
ombros. Uma igreja com incenso no ar é ofuscada, delimitada como espaço
sagrado. As pedras exalam o perfume de inúmeras Missas. É a
fragrância da oração.
A adoração sagrada envolve todos os nossos
sentidos, incluindo o olfato. O odor numa igreja católica parece um
pequeno detalhe, mas ainda me lembro da vez em que uma criança entrou na nossa
igreja com a sua mãe e, assim que cruzaram a soleira, sussurrou-lhe com
entusiasmo ao ouvido: “Aqui cheira à igreja!”
Nós nos envolvemos na adoração com todo o nosso ser
– visão, paladar, tato, audição e olfato. A beleza penetra em nossa alma e
é internalizada. Nós também devemos “cheirar à igreja” através das nossas
ações no dia a dia.
O
que o incenso simboliza?
Existem várias maneiras de explicar o simbolismo do
incenso. O mais simples é notar que é um sinal visível de orações subindo
ao nosso Pai Celestial. Literalmente vemos o incenso consumido no fogo e
subindo até Deus como uma coluna de fumaça.
No entanto, o incenso é muito mais do que uma
oração tornada visível. É um sacrifício. Se você já assistiu aqueles
vídeos de monges preparando-o, você testemunhou como ele é reduzido a pedaços
com almofariz e pilão. É esmagado. Depois, no altar, é totalmente
queimado.
Na antiga aliança, Deus ordenou a construção de um
altar especificamente dedicado à queima de incenso (Êxodo 30,1). Os
sacerdotes queimavam incenso neste altar duas vezes por dia, uma vez pela manhã
e outra à noite. Uma vez por ano, o incenso também era uma parte
obrigatória do sacrifício expiatório. A expiação é a oferta que Cristo
cumpre na Cruz. É a oferta para o perdão dos pecados.
É precisamente por isso que é louvável queimar
incenso durante o Santo Sacrifício da Missa todos os domingos. O incenso
está presente nos sacrifícios do Templo e também na adoração celestial, por
isso é justo que o utilizemos em nossa adoração atual.
Adoração
que penetra no coração
Lembre-se, a adoração não é apenas uma ação
exterior. Sempre vai ao coração. São Gregório Magno encoraja-nos a
pensar nos nossos corações como altares onde podemos queimar
incenso. Devemos exalar doces fragrâncias diante de Deus.
Nunca devemos esquecer, porém, que o sacrifício é
de Nosso Senhor e estamos apenas nos unindo a ele. É aqui que o simbolismo
do incenso se torna realmente interessante
Por
que o incenso é o “perfume do sol”
Jean Hani, em seu livro "The Symbolism of the
Christian Temple", escreve: “o incenso é o perfume do sol”. Isso
porque o incenso é uma resina criada pela árvore de olíbano em cooperação com a
ação da luz solar. Quando você pega um pouquinho de incenso entre os dedos
e o levanta para o céu, ele fica de cor âmbar, transparente e refrata a luz do
sol. É quase como um pedaço de luz cristalizada.
Os antigos acreditavam que o incenso nasce do sol,
nasce do fogo. Também morre pelo fogo quando consumido no altar. Um
grão de incenso é um pedaço de terra transformado em céu pela ação de ser
sacrificado. A humanidade sofre esta mesma transformação na Cruz. Nosso
Senhor une a si a humilde humanidade e, como nosso representante, faz um
sacrifício perfeito. Ele nos eleva ao Céu através da graça. Isto é,
se fizermos da nossa vida um sacrifício junto com ele.
Durante anos, quando meus paroquianos perguntavam por
que eu fazia um movimento circular com o turíbulo em torno do pão e do vinho
durante a Missa, eu encolhia os ombros. Eu não sabia. Simplesmente
incensava o altar como mostram os diagramas dos livros de liturgia. Agora
entendo que o círculo traça a forma do sol.
O movimento circular é precedido pelo ato de
incensar os presentes com o sinal da cruz três vezes. Inscrever o
crucifixo sobre o pão e o vinho indica que os efeitos da Cruz viajarão até os
confins da terra – leste, oeste, norte e sul – e o movimento circular é feito
ao redor da área onde as cruzes foram feitas. O amor de Cristo preencherá
tudo entre o nascer e o pôr do sol. Na verdade, ele é aquele sol
nascente. Ele é a luz do mundo.
Um
sinal visível
Em muitas igrejas antigas, o incenso sacrificado no
altar flutua até a pedra angular do arco acima dele. É uma escada para o
Céu, um sinal visível de que a terra está sendo redimida, elevada como oferenda
ao Pai. Cristo é essa linha vertical. Ele está na pedra fundamental
do altar e também na pedra angular do telhado do mundo. Na verdade, sua
luz viaja através daquele teto, passando pelo sol e outras estrelas até o reino
celestial.
Quanto mais compreendo os mistérios da liturgia, mais ela se enquadra num todo belo e harmonioso. Os símbolos da Missa podem ser difíceis de entender. Muitas das tradições da Igreja são sombriamente misteriosas. Mas, no centro de tudo isso, Cristo brilha intensamente, como o sol.
Edição Portuguese
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