Doenças Emocionais

Quando a alma silencia: depressão, fé e o sentido da vida

25/09/25

Há dores que não gritam. Elas apenas se instalam. Lentamente, como uma névoa densa que cobre a alma e esconde o horizonte.

A depressão, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas tristeza ou desânimo passageiro — é a sensação de estar desconectado de si, do mundo, e muitas vezes, até de Deus. É o peso de uma existência que perdeu o brilho e o propósito. E, ainda assim, dentro desse silêncio profundo, algo sagrado pode acontecer.

Em meio à escuridão, a fé não surge como explicação, mas como presença. Quando todas as palavras falham, quando as promessas humanas não se cumprem, quando o sorriso se torna raro, a fé se torna o fio mais tênue — e mais forte — que liga a pessoa à vida. Não é uma fé triunfalista, que grita vitória diante do sofrimento, mas uma fé silenciosa, que permanece de joelhos mesmo quando a alma está caída.

A depressão, de algum modo misterioso, nos obriga a fazer perguntas que evitamos em tempos de luz: por eu que existo? qual é o sentido de tudo isso? Deus ainda me vê? São perguntas que, embora dolorosas, abrem espaços profundos dentro de nós. Lugares onde o superficial não entra. A dor escava, mas também purifica. Ela revela o que é essencial e o que é ruído. E, muitas vezes, é nesse esvaziamento que começamos a perceber que há uma Presença que nunca nos deixou.

É preciso dizer, com verdade e compaixão, que fé não é antídoto mágico para a depressão. Não se trata de “acreditar mais” para que o sofrimento desapareça. Mas a fé pode ser o lugar onde esse sofrimento é acolhido, sem pressa, sem julgamento. Deus não se escandaliza com a nossa dor, nem se ofende com a nossa fraqueza. Pelo contrário: Ele se aproxima. Ele se inclina. Ele chora conosco. E talvez, isso seja o início de um novo sentido.

Encontrar o sentido da vida não é uma tarefa para os dias fáceis. É nas noites escuras da alma que os significados mais profundos emergem. Quando não temos mais força para correr, talvez seja o tempo de aprender a permanecer. Quando não conseguimos mais “fazer por merecer”, talvez seja hora de receber. E quando não conseguimos mais falar, talvez Deus esteja nos ensinando a escutar.

A depressão, com toda sua dureza, pode ser uma travessia. Não uma punição, mas um convite — para uma vida mais verdadeira, mais interior, mais conectada com o Eterno. Nessa travessia, a fé não é muleta, é âncora. E o sentido da vida talvez não esteja nas respostas imediatas, mas na coragem de permanecer, mesmo sem compreender, com os olhos fixos na esperança que, mesmo pequena, insiste em nos chamar de volta à vida.

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