Depressão e suicídio aumentam – mas pesquisas mostram que a fé pode evitá-los
25/09/25
A sociedade perde coesão, mas a fé
fortalece a esperança e o senso de comunidade
Centenas de pesquisas tentam entender o aumento
significativo do número de suicídios em muitos países. Nos Estados Unidos, ao
menos um psiquiatra de renome vem sugerindo que a resposta pode estar na
fragmentação da coesão social, da família e da fé.
Os suicídios nos Estados Unidos aumentaram 24% nos
últimos 15 anos, conforme o relatório publicado em abril pelos Centers for
Disease Control (Centros de Controle de Doenças). A taxa está em 13 casos por
100.000 pessoas, a maior desde 1986. Em 2014, foram 42.773 as pessoas que se
suicidaram no país, em comparação com as 29.199 de 1999.
Talvez o aspecto mais preocupante do relatório seja
a triplicação da taxa de suicídios entre meninas pré-adolescentes.
Existem "fatores biológicos
predisponentes" envolvidos no suicídio, mas, desde o início das pesquisas,
a sua incidência não tem variado consideravelmente. "Alguma outra coisa
deve estar influenciando este aumento", observa Aaron Kheriaty,
autor do livro The Catholic Guide
to Depression (O Guia
Católico da Depressão, em tradução livre). "Sabemos que muitos
fatores de risco para o suicídio não são determinantes biológicos inatos. São
influências ambientais, sociais e culturais".
Kheriaty, professor de psiquiatria e diretor do
Programa de Ética Médica na Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia
em Irvine, afirma que os pesquisadores têm algumas pistas. "Sabemos que o
suicídio está associado a fatores que levam a pessoa a ser mais isolada
socialmente", por exemplo. Este fato tem sido ratificado por séries de
dados registradas desde a década de 1890.
"As causas que levam as pessoas a terem poucos
laços sociais, maior alienação e mais isolamento aumentam o risco de suicídio.
Sabemos, por exemplo, que divorciados, viúvos e pessoas que nunca se casaram
correm um risco significativamente maior de suicídio que os indivíduos
casados".
Fortalecer
os laços familiares
Os laços sociais têm se enfraquecido, prossegue
Kheriaty, citando o trabalho do sociólogo Robert Putnam e do cientista político
Charles Murray. Eles mostram que as pessoas têm hoje menos e mais frágeis laços
de família, de amizade e com instituições mediadoras, tais como igrejas e
grupos cívicos.
Em paralelo, as mídias sociais têm sido apontadas
como “aproximadoras de pessoas”, mas é discutível que a experiência tecnológica
esteja mesmo alcançando êxito na construção de coesão social. Ela parece estar
facilitando, antes, a mentalidade suicida em alguns contextos.
"Há muita informação disponível na internet
sobre como tirar a própria vida, sobre o suicídio assistido, sobre a eutanásia.
Mas qual é a qualidade dessa informação? Em que medida ela influencia atitudes
e comportamentos? Provavelmente, ela está desempenhando algum papel",
considera Kheriaty. "Eu tive pacientes que foram influenciados pela
ideologia do ‘direito de morrer’ ou pelo movimento pró-eutanásia, mediante
recursos online, informações online. São indivíduos que sofrem de depressão, de
transtornos de personalidade ou de outros problemas de saúde mental que já os
colocam em risco. Essas pessoas estão expostas a se conectar com outras que
pintam o suicídio como a ‘solução’ para os problemas".
Sobre o aumento de 200% nos suicídios de meninas
entre 10 e 14 anos durante o período do estudo (a taxa triplicou, saltando de
0,5 por 100.000 mulheres em 1999 para 1,5 em 2014), Kheriaty comenta que as
meninas dessa faixa etária estão imersas "numa cultura que promulga ideais
impossíveis para as mulheres jovens em termos de realização, imagem corporal,
atratividade, sexualizando prematura e excessivamente a figura feminina
‘desejável’. Isso gera todo tipo de dificuldade, incluindo distúrbios
alimentares, depressão, outros problemas de saúde mental ligados às pressões
que as mulheres jovens enfrentam para ser atraentes e bem sucedidas. Há uma
cultura que pressiona os jovens a obterem ‘sucesso’, geralmente definido como
sucesso material, além de uma espécie de obsessão excessiva crescente com alto
desempenho profissional e acadêmico", prossegue o psiquiatra.
Kheriaty declara que os adolescentes e os jovens
adultos são vítimas ainda de uma atitude utilitarista arraigada: "Eu tenho
valor na medida em que posso conseguir as coisas, em vez de ter valor e
dignidade inata como filho de Deus", observa. "A nossa cultura tende
a ver os jovens adolescentes como um meio, não como fins em si mesmos. O
mercado os trata como um meio: eles são só consumidores. Até o esporte trata os
jovens cada vez mais como meios para um fim. Eles servem para que o clube
fature cada vez mais alto".
Existem
soluções para o problema crescente do suicídio?
Sem dúvida, e, para alguém que escreveu um livro
chamado “O Guia Católico da Depressão”, parece natural que a resposta religiosa
venha à mente em primeiro lugar.
"A fé ou a prática religiosa não imuniza
ninguém contra o suicídio. Não faltam pessoas de fé religiosa supostamente
profunda e de crenças morais contrárias ao suicídio que acabam tirando a
própria vida por causa de crises também profundas de angústia, geralmente
ligadas a problemas graves de saúde mental. Mas também se sabe que a fé e a
prática religiosa diminuem o risco de suicídio. É um fato bem registrado que a
fé e a prática religiosa proporcionam ‘proteção especial’ contra o suicídio. E,
numa cultura cada vez mais laicista, a perda de fé religiosa pode ser um fator
que contribui para o aumento dos casos de suicídio".
Kheriaty cita três hipóteses sobre a proteção que a
fé religiosa oferece contra as tendências suicidas:
·
Participar de uma comunidade religiosa fornece
apoio social. As pessoas religiosas tendem a estabelecer mais vínculos sociais
fortes do que pessoas não religiosas.
·
A convicção sobre a imoralidade do suicídio
desempenha um papel protetor.
·
A fé religiosa proporciona uma esperança
transcendente que vai além da atual situação de sofrimento, dando razões para
acreditar que o futuro, seja nesta vida, seja na próxima, pode valer a pena e
ser pleno de significado.
"Essa convicção religiosa dá sustento nas horas difíceis e também proporciona um entendimento de que o sofrimento não é totalmente sem sentido", ressalta Kheriaty. "São situações muito difíceis de suportar, mas a pessoa pode considerar que Deus as está permitindo por alguma razão e não meramente ‘à toa’".
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