Possessão demoníaca, aborrecimento, infestação, obsessão… qual é a diferença?
04/08/25
O diabo realiza "ações
extraordinárias". Vamos aprender o que a Igreja define sob esse conceito e
o que os exorcistas bem sabem.
É comum encontrar informações confusas na mídia
sobre exemplos específicos do que a Igreja define como "ação
extraordinária" do diabo. Portanto, é útil esclarecer questões em um
terreno aparentemente obscuro e escorregadio, com base na tradição da Igreja e
na experiência de exorcistas.
Obviamente, partimos da crença católica na
existência de demônios ou diabos (sim, no plural), que o Catecismo chama de
"espíritos criados que rejeitaram radical e irrevogavelmente a Deus e seu
Reino" (n. 392). Trata-se de seres que aparecem repetidamente na Bíblia e
com os quais o próprio Jesus lutou, como atestam os Evangelhos, que o
apresentam realizando exorcismos — e ordenando a seus discípulos que também
realizassem exorcismos em seu nome.
Embora seja sempre necessário ressaltar que seu
poder não é equivalente ao de Deus, mas invertido – como uma espécie de
princípio superior do mal – mas, como esclarece o próprio Catecismo da Igreja
Católica, o demônio “nada mais é do que uma criatura, poderosa porque é puro
espírito, mas sempre uma criatura: não pode impedir a edificação do Reino de
Deus”.
E continua: “Embora Satanás atue no mundo por ódio
a Deus e ao seu Reino em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause graves danos –
de natureza espiritual e indiretamente também de natureza física – a cada homem
e à sociedade, esta ação é permitida pela Providência divina que dirige com
força e doçura a história do homem e do mundo” (n. 395).
É nesse contexto que devemos compreender as ações
extraordinárias do diabo, sempre visando prejudicar os seres humanos,
separá-los de Deus e levá-los à condenação. Vejamos como a Igreja classifica e
explica essas ações há séculos.
Para a teologia, infestação é a ação extraordinária
do demônio sobre um lugar, um objeto ou um animal, principalmente, embora
também possa afetar pessoas.
Pode-se perguntar qual o significado disso quando
afeta elementos inanimados (lugares e objetos) ou animais. O objetivo do diabo
é sempre o mesmo: perturbar os seres humanos, irritá-los, levá-los ao desânimo
e ao desespero.
A história da Igreja nos dá exemplos variados de
infestação que afeta diretamente as pessoas, principalmente se observarmos a
vida de alguns santos, que sofreram episódios de infestação externa (vozes ou
visões perturbadoras, por exemplo) ou interna (imaginações ou sensações sem
causa aparente).
A obsessão diabólica é o fenômeno pelo qual uma
tentação atinge tal grau em uma pessoa que, poderíamos dizer, a “aprisiona”
completamente.
Aqueles que sofrem com isso, mesmo que seja contra
sua vontade, experimentam dores intensas — inclusive físicas —, pensamentos
obsessivos, explosões de ódio ou raiva, desespero, pensamentos suicidas, etc.
Outro tipo de ação demoníaca extraordinária é a vexação
diabólica, um ataque direto do demônio à saúde ou ao bem-estar de uma pessoa no
sentido mais amplo. O caso de Jó, descrito em detalhes no livro bíblico que
leva seu nome, é paradigmático.
E, mais uma vez, a história da Igreja nos fornece
exemplos de santos que sofreram vexações diabólicas em suas vidas. Basta pensar
em exemplos antigos como Santo Antônio Abade, ou mais recentes como São João
Maria Vianney (o Santo Cura d'Ars) ou São Pio de Pietrelcina.
E, finalmente, chegamos à ação mais poderosa e poderosa
que o diabo pode exercer sobre uma pessoa: a possessão. Como descreveu Corrado
Balducci, o que o diabo faz é dominar o corpo de uma pessoa, dominando
indiretamente seu espírito a fim de anular suas faculdades superiores.
Dessa forma, alguém possuído pelo diabo de repente
se vê usado por ele como um mero instrumento. Embora seja bom lembrar que o
diabo não pode tocar a alma de uma pessoa, isso é algo que Deus não permite.
A possessão é algo que encontramos em diversas
ocasiões nos Evangelhos, que precede a ação exorcística de Jesus Cristo e que
sustenta o trabalho da Igreja, que continua praticando o exorcismo em
obediência ao mandamento de Jesus.
Não podemos terminar esta análise sem lembrar que o
que é verdadeiramente importante para as pessoas é estarem atentas às ações
ordinárias do diabo, que não apareceram na lista, que é dedicada apenas às
ações extraordinárias.
E qual é o "trabalho diário" do diabo em
relação às pessoas? A tentação, que tenta nos afastar de Deus a todo momento. É
muito mais perigosa do que qualquer possessão, aborrecimento, obsessão ou
infestação.
A tentação, se aceita pelo homem, leva ao pecado, e
o pecado à separação de Deus e à morte eterna. É por isso que a oração mais
importante dos cristãos — aquela que Jesus ensinou — repete: "Não nos
deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal."