A América Latina precisa de exorcistas
07/08/25
Diversas motivações levam as pessoas a
seitas demoníacas. Ninguém, além da igreja, se preocupa em monitorar esses
casos.
"Roma procura exorcistas", diz um
comunicado à imprensa. A eterna luta entre o bem e o mal chegou aos nossos
dias, e a Igreja Católica está preocupada com o que considera um
"boom" de possessões demoníacas, centenas de milhares em todo o
mundo, segundo a Associação Internacional de Exorcistas, também reconhecida
legalmente pelo Vaticano.
Perdemos a conta de quantas vezes o Santo Padre
mencionou o mal, tanto em pessoa quanto presente no mundo, alertando-nos sobre
sua pompa e suas obras.
No entanto, o próprio Vaticano afirmou que, das
pessoas "possuídas" estudadas em todo o mundo, apenas 2 a 3% estavam
realmente possuídas. "O restante tem problemas psiquiátricos", disse
Corrado Balducci, especialista da Cúria Romana, há algum tempo. Mas eles são
necessários. Na Espanha, existem apenas 15. Na América Latina, onde o
fenômeno é generalizado, a escassez é preocupante. Porque não só
precisam ser autorizados pelo bispo a exercer a profissão, como também sua
formação deve ser ideal para discernir os casos e agir corretamente.
Cultos estão proliferando na América Latina. Provavelmente
em todo o mundo também. As chamadas redes de cultos não são uma solução; são a
confirmação de um problema pessoal, com impacto social, que está em fase aguda.
Especialistas afirmam que são principalmente
problemas pessoais que levam uma pessoa "a entregar seu corpo, mente e
vontade a um psicopata". Eles apontam vários: primeiro, a solidão. Depois,
o desejo por novidades, o cansaço dos valores tradicionais e a falta de
expectativas, porque as pessoas querem a felicidade aqui e agora.
Por outro lado, a falta de informação, embora possa
parecer inacreditável neste século caracterizado pelas comunicações, é
justamente o excesso de informação que levou à desinformação. E as crises que
todos nós já vivenciamos em algum momento, especialmente os jovens com os pais
entrando na adolescência, são um terreno fértil para a inescrupulosidade. Sem
mencionar quando conflitos engolem um país inteiro e adoecem sociedades, como
conflitos políticos e suas consequências na qualidade de vida das pessoas.
É importante enfatizar que qualquer pessoa está
suscetível a cair em redes sectárias. Não é uma questão de inteligência, idade,
status social ou econômico. Não é uma questão de nível educacional. São
as circunstâncias pessoais que influenciam e tornam as pessoas vulneráveis.
Mas há uma característica especial em nossos países
latino-americanos: enquanto dramas pessoais caracterizados pelo desenraizamento
e pela falta de respostas a crises existenciais surgem em países onde as
necessidades básicas são virtualmente atendidas e tornam as pessoas presas
fáceis para desajustados que prometem felicidade e autocontrole, nas realidades
de nossa parte do continente, o tema é a impotência diante de demandas sociais,
econômicas e de oportunidades não atendidas. Jovens — e não tão jovens também —
estão começando a se voltar para o mágico, o esotérico, e é aí que essas
organizações recrutam indivíduos desesperados e incautos.
Com a proliferação de cultos rituais como os
santeros — uma religião politeísta originária da Nigéria —, os espiritualistas,
os paleros e toda uma gama de cultos importados, o caminho foi aberto para que
o fenômeno se consolidasse.
Embora a Santeria seja considerada um sincretismo
entre os cultos iorubás e a religião católica, e apresentada como uma forma de
sobrevivência da religião iorubá nas Américas, sabemos que suas consequências
nefastas decorrem da manipulação política. Ela chegou a Cuba em meados do
século XVIII e agora é exportada para outros países, como a Venezuela. Os
efeitos são a entronização da ignorância, um recurso mágico para a solução
"instantânea" de problemas e, por sua vez, a abertura de brechas na
fé católica em um continente onde ela está profundamente enraizada, por fazer
parte da identidade cultural mais profunda. Mas o que foi aberto, em vez disso,
foi uma porta para o satanismo.
Lembramos que, em 2007, em entrevista à Rádio
Caracol (Colômbia), o padre jesuíta Jaime Vélez Correa comentou sobre como
"devido à violência constante, nosso país está sendo submetido ao
surgimento de cultos e rituais satânicos, particularmente nas principais capitais".
Ele também relatou casos em Honduras.
O Padre Vélez, ordenado — na época — há 50 anos e
com onze anos de prática como exorcista, chamou a atenção para a forma como as
pessoas se afastam de Deus e do cristianismo e caem no vazio da fé, optando
pelo satanismo, que representa a negação do bem. Ele também relatou casos em
Honduras.
Depois dos Estados Unidos e da Itália, a Colômbia
ocupa o terceiro lugar entre os países onde a prática do satanismo é
predominante. O uso de cultos satânicos por seitas, especialmente na Colômbia e
no México, tem levantado a necessidade de treinar e empregar mais exorcistas
neste continente. Neste último país, há alguns anos, a Igreja Católica decidiu
treinar cerca de 40 exorcistas para enfrentar a violência desenfreada na sociedade
mexicana causada pelos cartéis de drogas. No caso da Venezuela —
particularmente afetada pelas "exportações" cubanas —, diariamente a
mídia e as redes sociais noticiam a perturbação que isso causa às famílias e
até mesmo casos de assassinatos inspirados e incentivados por práticas de
adoração ao diabo.
O Halloween, um feriado que nada tem a ver com
nossas tradições e costumes, tornou-se uma ferramenta de cultos satânicos.
Muitos deles aproveitam essa data para retornar às antigas práticas celtas,
realizar adivinhações e invocar os mortos. "Nesse dia, a Eucaristia é
profanada, crianças são sequestradas e mulheres grávidas são levadas para serem
sacrificadas", alertou o padre salvadorenho Samuel Bonilla em 2017,
citando depoimentos de ex-satanistas.
Na Venezuela, foram relatadas atividades em vários
estados, principalmente Bolívar, Lara, Carabobo e Miranda. Sacrifícios humanos
também ocorreram recentemente. Desde 1994, agências de segurança pública nos
Estados Unidos e no Canadá alertam que seitas religiosas fanáticas e satânicas
estão praticando sacrifícios humanos na Venezuela, no âmbito de um fórum sobre
pobreza e gestão policial. O encontro reuniu representantes da polícia de
cidades desses dois países, do FBI, da DEA e da Conferência Internacional de Capelães
de Polícia (ICPC).
Isso tem sido tratado como uma questão de segurança
nos Estados Unidos (que vivenciaram o Holocausto Davidiano em 1992). Existem
seitas que conseguem mudar o comportamento das pessoas e afirmam ter
conhecimento de sacrifícios humanos praticados em todo o continente americano.
Enfatizam que "a Venezuela está sendo cada vez mais afetada por esses
eventos". Induzem suicídios em massa como o ocorrido em Jonestown (Guiana)
na década de 1970.
No ano passado, o jornal estatal de Lara, La
Prensa, noticiou revelações assustadoras de padres que atuam em suas dioceses.
A cada duas semanas, o padre Jhon Jairo García (pároco de Andrés Eloy Blanco)
recebe um caso envolvendo atos satânicos em sua igreja. O padre fez a afirmação
após saber que cinco crianças no vilarejo de Maraca del Tocuyo aparentemente
fizeram um pacto com o diabo em troca de favores. "A questão dos ritos
satânicos é alarmante e é preocupante que esses casos estejam se tornando mais
frequentes", comentou o padre em conversa telefônica com o jornal
mencionado.
Carlos Arroyo, padre, explicou que nos últimos anos
tem havido um fenômeno de pessoas caindo em depressão e buscando refúgio na
organização de missas negras (veneração a Satanás). “Cada vez que as famílias
buscam nossa ajuda e um estudo é realizado sobre a pessoa, uma profunda
tristeza se manifesta. Essas são as almas que o diabo prefere, porque são
pessoas entregues à dor. Infelizmente, ninguém aqui, além da igreja, se
preocupa em monitorar esses casos.”
O Padre Arroyo afirmou que 40% dos pactos são
feitos após uma perda (física ou material) que leva as pessoas a buscar
qualquer forma de reconstruir suas vidas. “Converse com uma santero que está
começando e pergunte por que ela faz isso. Na maioria das vezes, ela dirá que quer
outra vida, seja porque sofreu uma decepção ou porque perdeu algo muito
querido. Satanás ama pessoas que estão em crise”, diz o padre.
Matías Amaro, pastor evangélico, compartilha a
opinião de Arroyo. Ele afirma que os pactos diabólicos representam uma saída
que, cedo ou tarde, acaba cobrando seu preço dos protagonistas. "A guerra
espiritual sempre existiu. Infelizmente, temos governantes que ignoram a
palavra do Senhor e permitem que coisas estranhas aconteçam. Vivemos em um país
que foi pactuado por muitas pessoas que usam a santeria para obter poder, e
isso é lamentável", diz Amaro.
A Igreja Católica realiza encontros católicos
constantes para santificar os fiéis e manter o povo de Deus "puro".
Mas a "luta espiritual" deve ser levada mais a sério e, acima de
tudo, a presença de exorcistas treinados nesses territórios deve ser
fortalecida para uma profissão cada vez mais urgente e requisitada.