Igreja

Santo Agostinho, fonte de inspiração de Leão XIV

20/08/25

Desde o início de seu pontificado, Leão XIV fez inúmeras referências a Santo Agostinho, Bispo de Hipona. Este Padre da Igreja, marcado pela experiência de uma conversão radical aos 32 anos, estruturou uma teologia cristã voltada para a aceitação da graça divina.

"Sou filho de Santo Agostinho": estas palavras de Leão XIV, desde a sua primeira aparição na galeria da Basílica de São Pedro, na noite da sua eleição, deram o tom de um pontificado "agostiniano", assim como o de Francisco foi "inaciano". Robert Francis Prevost, que foi Prior Geral da Ordem de Santo Agostinho de 2001 a 2013, construiu a sua vocação e carreira na esteira deste Padre da Igreja, que estruturou de forma duradoura o pensamento cristão, enfatizando a fé, a graça divina e a conversão.

Desde o século XIX, a formação clerical tem se concentrado em Santo Tomás de Aquino, cuja concepção da ligação entre fé e razão é inspirada na filosofia grega, particularmente em Aristóteles. No pensamento tomista, a observação da natureza e o conhecimento da história devem levar a uma ética virtuosa e a uma demonstração racional da existência de Deus.

Santo Agostinho, que não era estritamente helenista, deu maior ênfase à experiência da Revelação e da conversão, a partir da perspectiva da unidade com o divino. Marcada por invasões bárbaras e pelo colapso das instituições herdadas do Império Romano, ele propôs uma concepção da história que revela uma luta dramática entre a Cidade de Deus e a cidade terrena.

De Tomás a Agostinho, uma nova inflexão teológica

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Os ensinamentos dos papas contemporâneos geralmente seguem a estrutura tomista, com a notável exceção de Bento XVI, que defendeu uma tese sobre Santo Agostinho quando jovem sacerdote em 1953. Em inúmeras ocasiões, ele enfatizou sua afeição por este Padre da Igreja. "Quando leio seus escritos, nunca tenho a impressão de que sejam de um homem que morreu há 16 séculos. Encontro um homem contemporâneo, um amigo que me fala, que nos fala, com uma fé fresca e perfeitamente contemporânea", disse Bento XVI durante uma catequese em 2008.

Leão XIV certamente poderia ecoar essas palavras do papa alemão, já que Santo Agostinho estruturou seu pensamento e discursos de forma tão profunda. Em 12 de maio, durante seu primeiro encontro com o mundo da mídia, o novo Papa confidenciou que "não pode haver comunicação e jornalismo fora do tempo e da história", ecoando esta famosa citação de um discurso de Santo Agostinho: "Vivamos bem, e os tempos serão bons. Nós somos os tempos."

Os "tempos" deste novo pontificado abrem-se, assim, com um tom agostiniano que defende a unidade. "A Igreja é composta por todos aqueles que estão em harmonia com os seus irmãos e que amam o seu próximo", disse Leão XIV, citando um discurso de Santo Agostinho na sua Missa de investidura, em 18 de maio. O objetivo do novo Papa era promover "uma Igreja fundada no amor e sinal de unidade".

Em 19 de maio, em seu discurso aos delegados de outras Igrejas e religiões que haviam participado de sua missa de posse no dia anterior, Leão XIV retomou o significado de seu lema: In Illo uno unum , uma expressão de Santo Agostinho de Hipona que significa que "no Um - isto é, Cristo - somos um".

Em 21 de junho, em seu discurso por ocasião do Jubileu dos Líderes Políticos, o Papa reiterou a importância da liberdade religiosa e do diálogo inter-religioso, enfatizando que "a fé em Deus, com os valores positivos que dela emanam, é uma imensa fonte de bem e de verdade na vida dos indivíduos e das comunidades". Ele se inspirou na Cidade de Deus de Santo Agostinho, "uma sociedade na qual a caridade é a lei fundamental" e para a qual a humanidade deve passar do "amor egoísta, fechado e destrutivo" para o "amor livre, enraizado em Deus e que conduz ao dom de si".

Ame a Igreja

Ao se dirigir ao clero de Roma em 12 de junho, Leão XIV também se inspirou em Santo Agostinho para lançar este vibrante apelo aos sacerdotes da capital italiana:

"Amai esta Igreja, vivei nela, formai-a como ela vos apareceu (...). Rezai também pelas ovelhas dispersas, para que também elas retornem, para que também elas reconheçam e amem a verdade, para que haja um só rebanho e um só pastor."

O atual Prior Geral dos Agostinianos, Padre Alejandro Moral Antón, enfatizou em uma entrevista que três palavras essenciais resumem a espiritualidade agostiniana: a busca da verdade, a prática da caridade e a unidade. Agostinho também falou extensamente sobre interioridade, afirmando que Deus é "mais íntimo do que a intimidade de mim mesmo". O homem que sucedeu o Padre Prevost em 2013 acredita que "o Papa Leão XIV contribui poderosamente com essas dimensões espirituais, algo de que a Igreja tanto precisa hoje".

Essa teologia agostiniana também dá um lugar importante às emoções: ao derramar algumas lágrimas, especialmente quando recebeu o anel do pescador durante sua missa de posse em 18 de maio, Leão XIV estava, de certa forma, seguindo os passos de Santo Agostinho, às vezes apelidado de "Doutor das Lágrimas". A dimensão da "graça das lágrimas" está muito presente em seus escritos, que se referem em particular aos de sua mãe, Santa Mônica, que rezou intensa e dolorosamente pela conversão de seu filho.

 

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