Igreja

Papa inicia nova série de audiências com a palavra “preparar”

06/08/25

O Papa Leão XIV está iniciando uma série de ensinamentos sobre a paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor.

O Papa Leão XIV mudou o tema das audiências gerais deste 6 de agosto, começando a refletir sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus. A primeira parte é uma meditação sobre uma palavra que "parece simples, mas contém um segredo precioso da vida cristã:  preparar-se ".

O Santo Padre considerou como a preparação para a Páscoa é repleta de detalhes simbólicos.

Jesus "já pensou em tudo, organizou tudo, decidiu tudo. No entanto, ele pede aos seus amigos que façam a sua parte", observou.

Isso nos ensina algo essencial para a nossa vida espiritual: a graça não elimina a nossa liberdade, mas a desperta. O dom de Deus não elimina a nossa responsabilidade, mas a torna fecunda.

Leão sugeriu que o relato do Evangelho é um convite:

Podemos nos perguntar, então: que espaços da minha vida preciso organizar para que estejam prontos para receber o Senhor? O que significa para mim hoje "preparar-me"? Talvez renunciar a uma exigência, parar de esperar que os outros mudem, dar o primeiro passo. Talvez ouvir mais, agir menos ou aprender a confiar no que já foi preparado.

Antoine Mekary | ALETEIA

Aqui está o texto completo da reflexão do Papa:

Continuemos nossa jornada jubilar na descoberta do rosto de Cristo, em quem nossa esperança ganha forma e consistência. Hoje, começaremos a refletir sobre o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Comecemos meditando sobre uma palavra que parece simples, mas que guarda um segredo precioso da vida cristã:  preparar.

No Evangelho de Marcos, é narrado que “no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, quando sacrificavam o cordeiro pascal, seus discípulos lhe perguntaram: ‘Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?’” ( Mc  14,12). É uma pergunta prática, mas também cheia de expectativa. Os discípulos percebem que algo importante está para acontecer, mas desconhecem os detalhes. A resposta de Jesus parece quase um enigma: “Ide à cidade, e um homem vos encontrará carregando um cântaro de água” (v. 13). Os detalhes tornam-se simbólicos: um homem carregando um cântaro, um gesto tipicamente feminino naquela época; um quarto no andar de cima já preparado; um anfitrião desconhecido. É como se tudo tivesse sido preparado com antecedência. De fato, é exatamente assim. Neste episódio, o Evangelho mostra que o amor não é fruto do acaso, mas de uma escolha consciente. Não é uma simples reação, mas uma decisão que exige preparação. Jesus não enfrenta sua paixão por fatalismo, mas por fidelidade a um caminho livre e cuidadosamente aceito e seguido. É isso que nos conforta: saber que o dom de sua vida provém de uma intenção consciente, não de um impulso repentino.

Esse “quarto já preparado” nos diz que Deus sempre nos precede. Antes mesmo de percebermos que precisamos ser acolhidos, o Senhor já preparou um espaço para nós, onde podemos nos reconhecer e sentir que somos seus amigos. Esse lugar é, fundamentalmente, o nosso coração: um “quarto” que pode parecer vazio, mas que espera apenas ser reconhecido, preenchido e acalentado. A Páscoa, que os discípulos devem preparar, na realidade já está presente no coração de Jesus. Ele já pensou em tudo, organizou tudo, decidiu tudo. No entanto, pede aos seus amigos que façam a sua parte. Isso nos ensina algo essencial para a nossa vida espiritual: a graça não elimina a nossa liberdade, mas a desperta. O dom de Deus não elimina a nossa responsabilidade, mas a torna fecunda.

Antoine Mekary | ALETEIA

Também hoje, como então, há uma ceia a preparar. Não se trata apenas da liturgia, mas da nossa disponibilidade para entrar num gesto que nos transcende. A Eucaristia não se celebra apenas no altar, mas também na vida quotidiana, onde é possível experimentar tudo como oferta e ação de graças. Preparar-se para celebrar esta ação de graças não significa fazer mais, mas deixar espaço. Significa remover o que nos sobrecarrega, reduzir as nossas exigências e deixar de alimentar expectativas irrealistas. De facto, muitas vezes confundimos preparativos com ilusões. As ilusões distraem-nos; os preparativos guiam-nos. As ilusões procuram um resultado; os preparativos tornam possível um encontro. O verdadeiro amor, recorda-nos o Evangelho, é dado antes de ser correspondido. É um dom antecipado. Não se baseia no que se recebe, mas no que se deseja oferecer. É o que Jesus viveu com os seus discípulos: enquanto eles ainda não compreendiam, enquanto um deles estava prestes a traí-lo e outro a negá-lo, ele  preparava  para todos uma ceia de comunhão.

Caros irmãos e irmãs, também nós somos convidados a «preparar a Páscoa» do Senhor. Não só a litúrgica: também a da nossa vida. Cada gesto de disponibilidade, cada ato gratuito, cada perdão antecipado, cada esforço pacientemente aceite, é um modo de preparar um lugar onde Deus possa habitar. Podemos então perguntar-nos: que espaços da minha vida preciso de organizar para que estejam prontos a acolher o Senhor? O que significa para mim hoje «preparar-me»? Talvez renunciar a uma exigência, deixar de esperar que os outros mudem, dar o primeiro passo. Talvez ouvir mais, agir menos, ou aprender a confiar no que já foi preparado.

Se aceitarmos o convite para preparar o lugar da comunhão com Deus e entre nós, descobriremos que estamos cercados de sinais, encontros e palavras que nos guiam para aquele espaço espaçoso e já preparado, no qual se celebra incessantemente o mistério de um amor infinito que nos sustenta e sempre nos precede. Que o Senhor nos conceda sermos humildes preparadores da sua presença. E que, nesta prontidão diária, cresça também em nós aquela confiança serena, que nos permite enfrentar tudo com o coração livre. Porque onde o amor foi preparado, a vida pode verdadeiramente florescer.

Edição Inglês

Comentários