Igreja

O que Jesus faz com a nossa traição: reflexão do Papa Leão

13/05/25

Os apóstolos foram levados a perguntar: "Será que não sou eu?" quando Jesus disse que alguém o trairia. Esta é talvez uma das perguntas mais sinceras que podemos nos fazer.

O Papa Leão XIV se dirigiu ao público "em pedaços" neste 13 de agosto, já que vários grupos dos que se reuniram para a audiência geral estavam na Basílica Paulo VI, na Basílica de São Pedro e na Praça, devido ao calor.

"Agradecemos a paciência de vocês e agradecemos a Deus pelo maravilhoso dom da vida, do bom tempo e de todas as suas bênçãos", disse o Papa a um grupo, em inglês.

O Santo Padre continuou a reflexão iniciada na semana passada, sobre a Última Ceia, retomando hoje o momento em que Jesus anunciou sua traição.

O quarto no andar de cima, onde pouco antes tudo era cuidadosamente preparado, de repente se enche de um silêncio doloroso, feito de perguntas, suspeitas, vulnerabilidade. É uma dor que também conhecemos bem, quando a sombra da traição se projeta sobre os relacionamentos mais próximos.

Jesus não menciona Judas, o que leva os apóstolos a se questionarem. Esta pergunta — Não sou eu? — é uma pergunta que precisamos nos fazer, disse o Papa.

Não se trata do inocente, mas do discípulo que se descobre frágil. Não se trata do grito do culpado, mas do sussurro daquele que, embora queira amar, tem consciência de poder fazer mal.

Essa consciência, porém, é o início da jornada da salvação, garantiu Leo. De fato, para os peregrinos de língua francesa, ele tornou a reflexão concreta, falando do Sacramento da Confissão.

Com Deus nada é impossível, a vida triunfa sobre a morte e a graça sobre o pecado: vivamos intensamente o sacramento da reconciliação para que a nossa relação com Ele seja viva para além das nossas traições. Que o perdão divino nos torne, por nossa vez, misericordiosos para com os nossos irmãos. 

Aqui está uma tradução do Vaticano da catequese:

Queridos irmãos e irmãs,

Continuemos nossa jornada na escola do Evangelho, seguindo os passos de Jesus nos últimos dias de sua vida. Hoje, nos deteremos em uma cena íntima, dramática, mas também profundamente verdadeira: o momento em que, durante a ceia da Páscoa, Jesus revela que um dos Doze está prestes a traí-lo: “Em verdade vos digo: um de vós me trairá, aquele que come comigo” ( Mc  14,18).

Palavras fortes. Jesus não as pronuncia para condenar, mas para mostrar como o amor, quando verdadeiro, não pode prescindir da verdade. O quarto do andar superior, onde pouco antes tudo fora cuidadosamente preparado, de repente se enche de um silêncio doloroso, feito de perguntas, suspeitas, vulnerabilidade. É uma dor que também conhecemos bem, quando a sombra da traição se projeta sobre os relacionamentos mais próximos.

No entanto, a maneira como Jesus fala sobre o que está prestes a acontecer é surpreendente. Ele não levanta a voz, nem aponta o dedo, nem pronuncia o nome de Judas. Ele fala de tal maneira que cada um pode se perguntar. E é exatamente isso que acontece. São Marcos nos conta: “Eles começaram a ficar angustiados e a perguntar-lhe, um por um: ‘Será que não sou eu?’” ( Mc  14,19).

Caros amigos, esta pergunta – "Será que não sou eu?" – talvez esteja entre as mais sinceras que podemos nos fazer. Não é a pergunta do inocente, mas do discípulo que se descobre frágil. Não é o grito do culpado, mas o sussurro daquele que, embora queira amar, tem consciência de poder fazer mal. É nessa consciência que começa a jornada da salvação.

Jesus não denuncia para humilhar. Ele diz a verdade porque quer salvar. E para ser salvo, é preciso sentir: sentir-se envolvido, sentir-se amado apesar de tudo, sentir que o mal é real, mas não tem a última palavra. Só quem conheceu a verdade de um amor profundo pode também aceitar a ferida da traição.

A reação dos discípulos não é de raiva, mas de tristeza. Eles não estão indignados, estão aflitos. É uma dor que surge da possibilidade real de se envolverem. E justamente essa dor, se acolhida com sinceridade, torna-se um espaço de conversão. O Evangelho não nos ensina a negar o mal, mas a reconhecê-lo como uma dolorosa oportunidade de renascimento.

Jesus então acrescenta uma frase que nos perturba e nos faz refletir: “Mas ai daquele por quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor seria para ele nunca ter nascido” ( Mc  14,21). São palavras duras, certamente, mas devem ser bem compreendidas: não se trata de uma maldição, mas sim de um grito de dor. Em grego, esse “ai” soa como uma lamentação, um “ai”, uma exclamação de sincera e profunda compaixão.

Estamos acostumados a julgar. Em vez disso, Deus aceita o sofrimento. Quando vê o mal, não o vinga, mas se entristece. E esse "melhor seria se nunca tivesse nascido" não é uma condenação imposta  a priori , mas uma verdade que qualquer um de nós pode reconhecer: se negamos o amor que nos gerou, se, ao trair, nos tornamos infiéis a nós mesmos, então perdemos verdadeiramente o sentido da nossa vinda ao mundo e nos excluímos da salvação.

E, no entanto, precisamente ali, no ponto mais escuro, a luz não se apaga. Pelo contrário, ela começa a brilhar. Porque se reconhecermos o nosso limite, se nos deixarmos tocar pela dor de Cristo, então podemos finalmente renascer. A fé não nos poupa da possibilidade do pecado, mas sempre nos oferece uma saída: a da misericórdia.

Jesus não se escandaliza com a nossa fragilidade. Ele sabe muito bem que nenhuma amizade está imune ao risco de traição. Mas Jesus continua a confiar. Continua sentado à mesa com os seus. Não desiste de partir o pão, mesmo para aqueles que o trairão. Este é o poder silencioso de Deus: Ele nunca abandona a mesa do amor, mesmo quando sabe que ficará sozinho.

Caros irmãos e irmãs, nós também podemos nos perguntar hoje, com sinceridade: "Será que não sou eu?". Não para nos sentirmos acusados, mas para abrir um espaço para a verdade em nossos corações. A salvação começa aqui: com a consciência de que podemos ser aqueles que quebram a nossa confiança em Deus, mas também podemos ser aqueles que a recuperam, a protegem e a renovam.

Em última análise, isto é esperança: saber que, mesmo que falhemos, Deus nunca nos decepcionará. Mesmo que o traiamos, Ele nunca deixa de nos amar. E se nos deixarmos tocar por esse amor – humildes, feridos, mas sempre fiéis – então poderemos verdadeiramente renascer. E poderemos começar a viver não mais como traidores, mas como filhos sempre amados.

 

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