Papa tira lição da Bíblia sobre o desafio da comunicação

30/07/25
"Vivemos em uma sociedade que está
adoecendo devido a uma espécie de 'bulimia' de conexões nas mídias sociais:
estamos hiperconectados, bombardeados por imagens."
O Papa Leão XIV conclui a série de audiências
gerais iniciada pelo Papa Francisco, sobre os sinais de esperança nas parábolas
e curas de Jesus nos Evangelhos. Em 30 de julho, ele abordou a história do
homem que não conseguia falar nem ouvir e refletiu sobre os desafios da
comunicação no mundo atual.
Em uma "sociedade que está adoecendo devido a
uma espécie de 'bulimia' das conexões nas redes sociais", onde estamos
"hiperconectados", corremos o risco de sentir "a vontade de
desligar tudo. Podemos preferir não sentir mais nada. Até nossas palavras
correm o risco de serem mal interpretadas, e podemos ser tentados a nos fechar
no silêncio, na falta de comunicação".
O Santo Padre refletiu sobre a cura neste relato do
Evangelho que fala sobre esta tentação.
Assim como às vezes pode acontecer conosco, talvez
esse homem tenha escolhido não falar mais porque não se sentia compreendido...
Aqui está a tradução completa da breve
reflexão do Papa .
Antoine Mekary | ALETEIA
Queridos irmãos e irmãs ,
Com esta catequese, concluímos nosso percurso pela
vida pública de Jesus, marcada por encontros, parábolas e curas.
Este tempo em que vivemos também precisa de cura.
Nosso mundo é marcado por um clima de violência e ódio que avilta a dignidade
humana. Vivemos em uma sociedade que está adoecendo devido a uma espécie de
"bulimia" das conexões nas redes sociais: estamos hiperconectados,
bombardeados por imagens, às vezes falsas ou distorcidas. Somos inundados por
inúmeras mensagens que despertam em nós uma tempestade de emoções
contraditórias.
Nesse cenário, é possível que surja dentro de nós o
desejo de desligar tudo. Podemos preferir não sentir mais nada. Até mesmo
nossas palavras correm o risco de serem mal interpretadas, e podemos ser
tentados a nos fechar no silêncio, numa falta de comunicação onde, apesar da
nossa proximidade, não conseguimos mais dizer uns aos outros as coisas mais
simples e profundas.
Nesse sentido, hoje gostaria de refletir sobre uma
passagem do Evangelho de Marcos que nos apresenta um homem que não fala nem
ouve (cf. Mc 7,31-37). Assim como às vezes pode acontecer conosco, talvez esse
homem tenha escolhido não falar mais porque não se sentia compreendido;
escolheu calar toda voz porque estava decepcionado e ferido pelo que ouvira. De
fato, não é ele quem vai a Jesus para ser curado, mas outros o levam. Pode-se
pensar que as pessoas que o levam ao Mestre se preocupam com seu isolamento. A
comunidade cristã, no entanto, também viu nessas pessoas uma imagem da Igreja,
que acompanha cada pessoa a Jesus para que ouça sua palavra. O episódio se
passa em território pagão, portanto, estamos em um contexto em que outras vozes
tendem a abafar a voz de Deus.
O comportamento de Jesus pode parecer estranho a
princípio, pois Ele chama essa pessoa de lado (v. 33a). Dessa forma, Ele parece
enfatizar seu isolamento, mas, olhando mais de perto, isso nos ajuda a entender
o que se esconde por trás do silêncio e do fechamento desse homem, como se
Jesus tivesse percebido sua necessidade de intimidade e proximidade.
Antes de tudo, Jesus lhe oferece uma proximidade
silenciosa, através de gestos que falam de um encontro profundo: Ele toca os
ouvidos e a língua deste homem (cf. v. 33b). Jesus não usa muitas palavras; diz
apenas o necessário naquele momento: «Abre-te!» (v. 34). Marcos usa a palavra em
aramaico — Eph'phatha —
como se quisesse fazer-nos ouvir, quase «em pessoa», o seu som e a sua
respiração. Esta palavra simples e bela contém o convite que Jesus dirige a
este homem que tinha parado de ouvir e de falar. É como se Jesus lhe dissesse:
«Abre-te a este mundo que te assusta! Abre-te às relações que te desiludiram!
Abre-te à vida que desististe de enfrentar!». Fechar-se em si mesmo, de facto,
nunca é uma solução.
Após o encontro com Jesus, essa pessoa não apenas
recomeça a falar, mas o faz “claramente” (v. 35). Esse advérbio, inserido pelo
evangelista, parece sugerir algo mais profundo sobre os motivos de seu
silêncio. Talvez esse homem tenha parado de falar porque sentia que estava
dizendo as coisas da maneira errada, talvez se sentisse inadequado. Todos nós
experimentamos o que significa ser incompreendido, sentir que não somos
verdadeiramente ouvidos. Todos nós precisamos pedir ao Senhor que cure nossa
maneira de nos comunicar, não apenas para que sejamos mais eficazes, mas também
para que evitemos ferir os outros com nossas palavras.
Começar a falar corretamente novamente é o início
de uma jornada, ainda não é o destino. De fato, Jesus proíbe aquele homem de
falar sobre o que lhe aconteceu (cf. v. 36). Para conhecer verdadeiramente
Jesus, é preciso completar uma jornada; é preciso permanecer com Ele e também
passar pela Sua Paixão. Quando O tivermos visto humilhado e sofrendo, quando
tivermos experimentado o poder salvador da Sua Cruz, então podemos dizer que O
conhecemos verdadeiramente. Não há atalhos para nos tornarmos discípulos de
Jesus.
Caros irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor que
aprendamos a comunicar com honestidade e prudência. Rezemos por todos aqueles
que foram feridos pelas palavras dos outros. Rezemos pela Igreja, para que ela
nunca falhe em sua missão de conduzir as pessoas a Jesus, para que ouçam a Sua
Palavra, sejam curadas por ela e, por sua vez, se tornem portadoras da Sua
mensagem de salvação.
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