Igreja

Cardeal Sarah: A adoração silenciosa é mais forte que o mal!

30/07/25

Em uma homilia impactante no 400º aniversário das aparições de Santa Ana em Auray, França, o Cardeal Robert Sarah colocou a vida e o sofrimento em perspectiva.

O Cardeal Robert Sarah, Prefeito Emérito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos , foi o enviado especial do Papa Leão XIV para presidir as celebrações de Sainte-Anne-d'Auray (França) nos dias 25 e 26 de julho.

Ele não mediu palavras durante sua homilia na missa pontifícia no sábado, 26 de julho. Diante de quase 30.000 fiéis reunidos em frente ao altar ao ar livre do santuário bretão, o cardeal guineense os incentivou fortemente a retornar ao caminho da fé e da adoração eucarística.

Grande Perdão de Sainte Anne, 26 de julho de 2025

Diocese de Vannes

Ele encorajou fortemente os fiéis a colocar Deus em primeiro lugar, tanto na vida privada quanto na política.

“Não profanem a França com suas leis bárbaras e desumanas que defendem a morte quando Deus quer a vida”, disse ele, referindo-se ao debate atual em torno do projeto de lei da eutanásia .

A verdadeira espiritualidade não se define por projetos humanitários, mas se nutre, antes de tudo, da adoração. Inspirando-se em uma visão cara aos Padres do Deserto , ele exortou as pessoas a cuidarem de suas almas, o lugar interior onde Deus fala a cada um de nós. 

Por fim, o Cardeal Sarah dirigiu um pensamento especial a todos os casais que desejam ter um filho e, de forma mais ampla, a todos os fiéis que enfrentam o sofrimento. Ele os encorajou a recorrer a Santa Ana, escolhida para ser a mãe da Virgem Maria.

Aqui estão alguns trechos de sua homilia (tradução de Aleteia, com títulos e ênfases acrescentados).

A história do santuário

Neste lugar, há 400 anos, Santa Ana apareceu a Yvon Nicolazic para lhe dizer: “Yvon Nicolazic, Me zo Anna, mamm Mari (“Eu sou Ana, mãe de Maria”, em bretão, nota do editor). Yvon, não tema, eu sou Ana, mãe de Maria. Diga ao seu reitor, ao seu padre, que na terra chamada Bocenno — isto é, este lugar onde estamos agora — existiu uma capela dedicada em meu nome, a primeira em todo o país. Ela está em ruínas há 924 anos e 6 meses, e desejo que seja reconstruída o mais rápido possível e que você cuide dela, porque Deus quer que eu seja honrada lá , Deus quer que você venha lá em procissão.”

Deus vem primeiro

Há um grande mistério aqui sobre o qual devemos meditar. Havia muitas outras igrejas disponíveis, muitos outros lugares possíveis, mas ele escolheu esta. Por quê? Primeiro, para nos dizer que Deus é o primeiro, que a glória de Deus nos precede e não nos pertence . Deus nos criou a partir de um ato livre de amor; toda a criação é obra de suas mãos, o dom gratuito de seu amor. […]

Não merecíamos o seu amor; ele nos amou primeiro, e devemos tudo a ele, porque é a ele que devemos a nossa vida, o nosso movimento e o nosso próprio ser. Para nós, suas criaturas e seus filhos, honrar a Deus e dar-lhe glória é fazer justiça. Dar glória a Deus não é uma escolha opcional, é um dever, uma necessidade. É muito importante estar ciente disso, especialmente em suas sociedades, que tendem a considerar Deus como morto, inútil e desinteressante.

A falsa visão ocidental da religião

Com muita frequência, no Ocidente, a religião é apresentada como uma atividade que visa o bem-estar humano. A religião é equiparada a ações humanitárias, atos de caridade, acolhimento de migrantes e moradores de rua, promoção da fraternidade universal e da paz mundial. A espiritualidade é vista como uma forma de desenvolvimento pessoal , para trazer um pouco de alívio ao homem moderno, que está focado em suas atividades políticas e econômicas habituais.

Embora essas questões sejam importantes, essa visão da religião é falsa . Religião não se trata de comida ou ações humanitárias. No deserto, essa foi a primeira tentação que Jesus rejeitou. Para redimir a humanidade, precisamos superar a miséria da fome e da pobreza, que é o que o diabo oferece ao Senhor. Mas Jesus responde que esse não é o caminho para a redenção. Ele nos faz entender que, mesmo que todos os homens tivessem o suficiente para comer, se a prosperidade se estendesse a todos, a humanidade não seria redimida.

A religião não se trata principalmente de ações humanitárias

Vemos como, precisamente em países de conforto, riqueza e abundância, o homem se destrói, se autodestrói, porque se esquece de Deus e pensa apenas em sua riqueza e bem-estar terreno. O que salva o mundo é o pão de Deus.

Ele alimenta o homem com o pão de Deus, e o pão de Deus é o próprio Cristo. O que salvará o mundo é o homem se ajoelhar diante de Deus para adorá-lo e servi-lo. Deus não está a nosso serviço. Nós estamos a serviço dele.

A razão da nossa existência é adorar a Deus

Fomos criados para louvar e adorar a Deus. É na adoração a Deus que descobrimos nossa verdadeira dignidade, a razão última da nossa existência. É de joelhos diante de Deus que o homem descobre sua verdadeira grandeza e nobreza. E se não adorarmos a Deus, acabaremos adorando a nós mesmos. [...]

Não profanem a França com suas leis bárbaras e desumanas que defendem a morte quando Deus quer a vida. [...]

E nossa primeira atividade é adorar e glorificar a Deus. Esta é a mais alta expressão da nossa gratidão a Deus e a mais bela resposta das nossas vidas ao amor excepcional que Ele tem por nós. Para adorar a Deus, devemos nos separar em silêncio.

Lugares sagrados, cuidados especiais

Venha aqui, no silêncio do seu coração, para ouvir a Deus. É isso que chamamos de entrar em uma atitude sagrada. Existem lugares sagrados, lugares reservados para Deus, escolhidos por Deus. Esses lugares não podem ser profanados por outras atividades além da oração, do silêncio e da liturgia.

Nossas igrejas não são teatros, salas de concerto ou locais para atividades culturais ou entretenimento. A igreja é a casa de Deus . É reservada exclusivamente para Ele. Entramos nela com respeito e reverência , vestidos adequadamente, porque trememos diante da grandeza de Deus. Não trememos de medo, mas de respeito, reverência e admiração.

Fiéis reunidos em trajes tradicionais no Grand Pardon de Sainte Anne, 26 de julho de 2025.

Laure-Emmanuelle Gache

[...] O esforço externo que fazeis para vos vestirdes bem é apenas um sinal do esforço interno que fazeis para vos apresentardes a Deus com a alma pura , lavada pelo sacramento, adornada pela oração e pelo espírito de adoração.

Os lugares sagrados não nos pertencem, pertencem a Deus. A liturgia tem como objetivo a glória de Deus e a santificação dos fiéis, e a música sacra é um meio privilegiado para facilitar a participação ativa e plenamente consciente dos fiéis na celebração sagrada dos mistérios cristãos. […]

Reconstruindo a igreja da alma

Deus vem dizer a cada um de nós hoje: “Eu escolhi a sua alma. Eu escolhi o seu coração como um lugar sagrado para ser adorado.” Sua alma batizada é um lugar sagrado ; não a profanem entregando-a às paixões desordenadas e ao espírito do mundo. Não a profanem roubando o primeiro lugar de Deus.

Se a igreja da sua alma está em ruínas, então ouça o chamado de Deus. É hora de reconstruí-la, e reconstruí-la sobre a rocha, o alicerce sólido sobre o qual devemos edificar nossas vidas e nossa esperança.

Sim, é tempo de reconstruir a igreja da nossa alma , é tempo de confessar, confessar os pecados que você cometeu em palavras ou ações, noite ou dia, confesse neste tempo favorável e no dia da salvação receba o tesouro celestial.

“Acima de tudo, zela pela tua alma”, diz-nos São Cirilo de Jerusalém. É tempo de cuidar dela, reservando um tempo todos os dias para a oração verdadeira, intensa e silenciosa. É tempo de expulsar os ídolos do dinheiro, das telas e da sedução fácil e vulgar. Deus quer o teu coração; Deus quer a tua alma [...].

Não roubemos de Deus o santuário sagrado da nossa alma.

Sua alma é um lugar sagrado. Cuide dela. É somente lá, no santuário sagrado da sua alma, que Deus pode falar com você, consolá-lo e trazê-lo de volta a Ele por meio de uma conversão radical. É somente neste santuário interior que você poderá ouvir o Seu chamado para ser santo, para ser um adorador. "Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo."

É neste lugar interior e sagrado que você, jovem, poderá ouvir o seu chamado para ser padre ou religioso. Que você, jovem, ouça o seu chamado para se entregar a Ele na vida religiosa, consagrando seu corpo, seu coração e toda a sua capacidade de amar. [...]

Meus amados irmãos e irmãs, não roubemos de Deus o santuário sagrado da nossa alma. Deus o criou e Deus o redimiu. Não profanemos os nossos corpos. O nosso corpo é o Templo de Deus e o Espírito de Deus habita em nós. [...] Deus o confiou a nós para que possamos cuidar dele e adorá-Lo em silêncio. Deus o quer, Deus quer você.

O sofrimento de Santa Ana e o nosso

[...] Não há outro lugar no mundo onde Santa Ana tenha aparecido. Que privilégio! Que graça! Que mistério! Santa Ana traz uma mensagem especial a este lugar — ela que, juntamente com Joaquim, não teve filhos devido à sua idade avançada. Seu coração devia estar cheio de tristeza e ansiedade. Que sofrimento para o coração de uma mulher que anseia por ser mãe e vê sua espera prolongada.

Quanto Santa Ana deve ter se perguntado: A culpa é minha? Por que tanta provação? Certamente há homens e mulheres entre vocês que sofrem por não ter filhos. Certamente há pais entre vocês cujos corações, como os de Santa Ana, estão cheios de sofrimento, angústia e preocupação por crianças doentes, por crianças que abandonaram a fé e parecem estar se afastando de Deus, ou por suas famílias, ou por seu país, que parece estar em perigo.

Uma estátua de Santa Ana carregada em procissão em Grand Pardon, Sainte-Anne-d'Auray, 26 de julho de 2016

JEAN-SEBASTIEN EVRARD / AFP

Nossas provações e sofrimentos às vezes nos deixam em um estado de profunda incompreensão. Por que a morte de uma criança? Por que o sofrimento de um inocente? Por que a guerra? Por que a traição? Por que, Senhor? 

Às vezes nos sentimos abandonados por Ele. Deus parece não estar mais lá, e para a Europa, Deus está morto. Deveríamos nos rebelar? Deveríamos acreditar que Deus se tornou indiferente a nós? Deveríamos abandonar nossa prática religiosa porque Ele não ouve nossas orações? Deveríamos parar de rezar e de ir à missa aos domingos?

A resposta de Santa Ana: adoração

Olhemos para Santa Ana e ouçamos a sua voz. O que ela está fazendo? Ela está se rebelando contra Deus? Ela está se afastando de Deus? Não, ela permanece em adoração. Deus é maior que a nossa incompreensão, maior que as nossas dúvidas. Deus é maior que os nossos corações.

Diante do mal, não temos respostas prontas, não temos respostas humanas. Diante do mal, temos apenas uma resposta: a adoração. Nossa única resposta ao mistério do mal é a adoração silenciosa. Sim, o mal é incompreensível, mas sabemos pela fé que a confiança adoradora em Deus é mais forte do que o absurdo do mal.

Santa Ana veio aqui para dizer [...] às pessoas de todos os países e de todos os lugares que a adoração é o único remédio para o desespero. A fé em Deus e a adoração a Deus são os únicos remédios que podem garantir às pessoas uma paz sólida e duradoura. […]

Persevere na adoração

Todos vocês que sofrem, eu me dirijo a vocês, olhem para Santa Ana, todos vocês que desesperam por seus filhos, seus pais, sua pátria, olhem para Santa Ana. Como ela, perseveremos na adoração. A adoração a Deus jamais nos decepcionará.

A adoração paciente e silenciosa de Santa Ana permitiu que Maria, a mãe do Salvador, a mais bela, a mais pura e a mais santa de todas as criaturas, nascesse. Todos vocês, cujos corações estão cheios de sofrimento e tristeza, sua adoração frutificará em esperança. A adoração perseverante e incansável dissipa as trevas e traz a luz da esperança. […]

Quando tudo parece escuro, podemos sempre dizer, com o nosso amado Papa Leão XIV, que o mal não triunfará, o mal não prevalecerá. Deus, o nosso Deus, é infinitamente bom, infinitamente belo, infinitamente grande. [...] “Vinde, adoremos o Senhor, vinde, adoremos-o, prostremo-nos diante dele, ajoelhemo-nos diante do Senhor, nosso Criador, pois ele é o nosso Deus. Amém.”

Edição Inglês