A beleza e os benefícios de buscar mais silêncio na vida
28/09/25
E se pudéssemos ouvir os sons ao nosso
redor de uma nova maneira?
Vi recentemente um vídeo produzido pelo The New York Times sobre um
ecologista chamado Gordon Hempton.
O vídeo segue-o enquanto ele procura lugares no
fundo da floresta, livres de ruídos artificiais.
Hempton não está buscando o silêncio como meio de
fuga. Em vez disso, ele está tentando fazer uma conexão.
“O silêncio não é a ausência de algo, mas a
presença de tudo”, diz ele.
Se ficamos em silêncio e ouvimos, se realmente
ouvimos verdadeiramente os sons sutis do mundo natural ou as palavras de outra
pessoa, somos atraídos para uma experiência mais completa da realidade que, de
outra forma, teria passado por nós.
É a chance de sair de nossas próprias cabeças,
longe dos pensamentos que se agitam naquele monólogo interno incessante que
carregamos todos os dias.
É também a chance de nos removermos dos ruídos que
nos cercam diariamente. Estamos nos afogando em barulho e, por isso, perdemos a
capacidade de ouvir.
Hempton, no final do vídeo, diz: “o que mais gosto
é que, quando ouço, desapareço. Eu desapareço.”
Para ouvir, o ego deve ser deixado de lado. Pense
nisso: quantos de nós não estão realmente ouvindo um ao outro?
Quantos de nós estão apenas esperando a outra
pessoa parar de falar para que possa ser a nossa vez? Estamos tão ansiosos por
nos ouvir falar que não ouvimos mais; simplesmente esperamos até a nossa vez de
falar novamente.
Pense em quanto estamos perdendo – a chance de nos
acalmarmos e encontrar a calma interior, a chance de aprender algo novo, a
chance de fazer uma conexão humana genuína.
Acima de tudo, parece-me, devemos dedicar um tempo
para ouvir porque amamos. Eu ouço minha esposa me contar sobre o dia dela,
porque quero compartilhar nossas vidas. Eu ouço um amigo tomando café, porque
essa é minha oferta para ele. Faço uma pausa e ouço os passarinhos cantando,
porque amo todos os dias da vida que tenho o privilégio de experimentar nesta
linda terra.
Um dos presentes reais da Quaresma é que ela nos
obriga a ouvir. É uma época de contemplação silenciosa, marcada por oração e
sacrifícios extras que nos tiram da nossa rotina normal. Cada Quaresma, ao
pensar em como quero dar um passo à frente em minha disciplina espiritual, acho
que é vital dedicar um tempo ao silêncio para que eu possa realmente ouvir.
Sou padre de uma paróquia e, muitas vezes, ao
fechar a igreja à noite, apago as luzes até que tudo o que é visível na
escuridão seja o brilho vermelho da vela do tabernáculo. Então eu me sento.
Fico quieto. Eu escuto a poesia do espaço. Todo lugar tem um som próprio. Qual
é o som de uma igreja à noite? É o som do braço de uma mãe em volta de uma
criança.
Um som pode transformar uma vida. Quando sento na
minha igreja e ouço, sinto uma sensação de paz que raramente sinto em outro
lugar. Mas poderia ser qualquer som, realmente.
Poderia ser o som de trovões colidindo com colinas,
gotas de chuva atingindo o telhado, o rangido dos aviões quando eles alcançam o
céu.
Pode ser a respiração de um bebê no meio da soneca,
ou uma pisada na neve, ou o som de crianças rindo no quintal. Porque é como ler
um poema, há uma verdadeira arte em ouvir.
O filósofo Erich Fromm acredita nisso, e em seu
livro Art of Listening ele
fala sobre como toda arte tem princípios e técnicas racionais. Aqui estão suas
regras para se tornar um ouvinte melhor:
– Concentre-se completamente.
– Não pense em nada além de ouvir.
– Aplique sua imaginação ao que você está ouvindo.
– Crie empatia com o que você está ouvindo.
– Descubra alguma forma de amor pela pessoa ou
coisa a quem você está ouvindo.
Seguindo essas diretrizes, cada um de nós pode
praticar a arte de ouvir. É um hábito que recompensará quem pratica.
Não é apenas um ato de amor que os outros notarão
com apreço, não apenas melhorará nossos relacionamentos e nos ajudará a ter
conversas melhores e mais proveitosas, mas sempre que ouvirmos atentamente,
ouviremos a presença de um grande mistério, um antigo nutrir a presença
embutida na criação. É a voz mansa e delicada de Deus sussurrando.
É hora de começarmos a ouvir.
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