Quando silêncio rima com presença

28/09/25
É no silêncio que o amor floresce como lugar de encontro e comunhão...
O alarme tocando no
início da manhã desencadeia o contra-relógio do dia. Ele terminará à noite,
depois de um jantar com a família ou amigos, assistindo a uma série ou filme,
um último e-mail de trabalho enquanto supervisiona a hora de dormir dos
filhos.
Teremos gerido da melhor forma possível as
múltiplas atividades que pontuam as nossas vidas: trabalho, filhos, viagens,
atividades, casa... com a sua quota de contentamento, esforço, alegria e
dor? A agitação do dia só acaba com o sono. Então a calma pode se
instalar.
Conheça
você mesmo
O silêncio é precioso porque, ao isolar-nos um pouco
do mundo, coloca-nos frente a frente com nós mesmos. Você se lembra de ter
tido um momento de silêncio voluntariamente ultimamente? Quando foi a
última vez que você se conheceu? Enquanto o barulho nos mergulha sem
cerimônia na agitação do mundo, o silêncio nos envolve. Para alguns, há
algo reconfortante nisso. Sentimo-nos protegidos no
silêncio. Sentimo-nos em casa. Para outros, o silêncio pode ser
vertiginoso ou angustiante. Por falta de hábito, por medo de se confrontar
ou porque a solidão torna o silêncio pesado. Em ambos os casos, pode ser
útil redefinir o que podemos esperar dele para tentar domesticá-lo.
Quando escolhido e convocado, o silêncio pode
tornar-se uma verdadeira âncora. Isso interrompe a correria louca do dia
por um momento. Ele nos permite suavizar nossas penas e largar nossas
armas. O silêncio nos permite dar um passo atrás. É um espaço de
existência para a nossa vida interior. O silêncio, por favorecer a
introspecção, promove a nossa reflexão, a nossa espiritualidade e, consequentemente,
a precisão das nossas reações e das nossas decisões.
No
amor, um lugar de comunhão
É também um lugar privilegiado de encontro com o
Senhor porque é um lugar de comunhão. Para compreendermos melhor o porquê,
lembremo-nos que, acima de tudo, é o amor que torna possível a
comunhão. Existe uma plenitude mais doce do que aquela que sentimos quando
amamos plenamente e sabemos que somos totalmente amados em troca?
Pensemos no recém-nascido nos braços da mãe, nos
amantes transfixados ou nos grandes amigos que se pensam com carinho – mesmo à
distância. A simples ideia da existência dessa pessoa é, às vezes,
suficiente para nos satisfazer. Pensemos naqueles que sabem partilhar um
momento de silêncio, simplesmente desfrutando da presença física do seu ente
querido ao seu lado. É um sentimento de total aceitação de quem realmente
somos pelos outros e vice-versa. Dois corações que se comunicam.
O
silêncio é liberdade: é o respeito máximo por aqueles que encontramos, apoiamos
ou ouvimos.
Não há necessidade de palavras aqui, o amor tem um
cheiro óbvio. Ele prospera em silêncio. É também deste sentimento que
podemos desfrutar quando conseguimos tomar consciência do imenso amor que o
Senhor tem por nós. Uma plenitude alegre e serena, primícias das bem-aventuranças
do Reino. O amor nem sempre precisa de palavras, o amor não precisa de
demonstrações barulhentas. O amor é suficiente por si só quando
compartilhado.
Um momento de oração, como uma hora passada com
alguém que amamos, pode ser repleto de silêncios verdadeiros, belos e
profundos. Coloque-se na presença do seu ente querido, ofereça o seu olhar
bondoso. Esteja totalmente presente.
Silêncio
é liberdade
Porque neste contexto o silêncio não é
ausência. Quando o silêncio é acompanhado de presença, tem sempre
razão. Com efeito, ele leva em conta as necessidades do outro, deixa-o
livre para se ater a este apoio silencioso ou para pedir mais.
O silêncio é liberdade: é o respeito máximo por
aqueles que encontramos, apoiamos ou ouvimos. Tomemos o exemplo de um
amigo que está sofrendo. Diante de alguém que sofre, às vezes é mais
gentil oferecer uma presença silenciosa do que tentar a todo custo fazê-lo
mudar de ideia ou sobrecarregá-lo com a nossa própria experiência com palavras
desajeitadas. Às vezes, um simples gesto é suficiente para significar que
partilhamos a dor do outro, que sofremos a sua dor, que não podemos carregar o
seu fardo por ele, mas o convidamos a apoiar-se em nós. Esta é a definição
de compaixão, o início da consolação.
Lembremo-nos
de que o amor se encontra na precisão da nossa presença e dos nossos silêncios,
no respeito pelas alegrias e lágrimas dos outros, na disponibilidade e no
carinho com que o asseguramos.
Acolhendo
sua presença
Nós, que temos o imenso privilégio de
conhecer Jesus mais próximo da nossa alma, podemos compreender o aparente
silêncio do Senhor. Ouçamos, então, o silêncio das nossas orações para
acolher a sua presença. Ouviremos, assim, a sua profunda consideração e
respeito, a sua grande misericórdia e a sua infinita ternura.
Examinemos a sua Palavra que tão bem ouvimos no
silêncio. Iremos lê-lo de forma diferente cada vez que nos depararmos com
ele – foi escrito só para nós naquele exato momento. Estejamos atentos à
delicadeza que ele demonstra, esperando por todos exatamente onde ele os
procura. Sejamos gratos por todos aqueles corações amigos que abrigam a
sua chama - às vezes sem saber - e que sabem nos mostrar o seu apoio com um
olhar ou um gesto.
Por fim, deixemo-nos inspirar pelo que o Senhor nos
ensina sobre o silêncio, para transmitir sabedoria a quem nos rodeia.
Lembremo-nos de que o amor se encontra na precisão
da nossa presença e dos nossos silêncios, no respeito pelas alegrias e lágrimas
dos outros, na disponibilidade e no carinho com que o asseguramos. É a
delicadeza de estar onde quem amamos nos espera. À imagem de Jesus —
incansavelmente ao lado da nossa alma e infinitamente respeitoso com a nossa
liberdade.
Edição Português
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