Pais, evitem esses erros com seus filhos mais
velhos
25/09/25
A personalidade do seu filho dependerá em
parte do seu lugar entre os irmãos e, mais importante, de como você os educa.
Uma atenção especial deve ser dada ao seu primogênito, que às vezes pode levar
muito peso por causa da sua posição de filho mais velho
Nascer primeiro tem muitas vantagens. Muitos
primogênitos se orgulham e ficam muito felizes com esse lugar.
Do ponto de vista material, o mais velho recebe
tudo, as roupas, a primeira bolsa, os brinquedos, o lugar ao lado do motorista
até que seja a hora de receber a sua própria carteira.
Seu tamanho e idade lhe conferem autoridade sobre
os outros, a qual ele sabe bem utilizar. Ele geralmente é uma criança muito
esperada e seu nascimento é uma grande alegria.
Mesmo quando o filho mais velho sai de casa, ele
muitas vezes continua sendo uma referência para os outros. No entanto, se a
ordem de nascimento não determina o temperamento, ela implica uma atitude nos
pais e um papel atribuído à criança que acaba moldando o perfil do filho mais
velho.
Ser o mais velho pode influenciar o caráter da
criança
A primeira característica do primogênito é a
ansiedade. Ela se explica muito bem pois é o primogênito a mudar o casal para o
status de pai e mãe. E isso não é feito sem dificuldade.
Quantas ansiedades, muitas vezes durante a primeira
gravidez, por medo de ser um pai ruim ou pelo medo do filho ter alguma
deficiência, que é transmitido à criança! Laura confirma isso. Seu filho mais
velho, Christiano, 6 anos, sempre parece estar muito nervoso: “Ele tem a necessidade de se sentir
afetivamente seguro. Com ele eu ajo de forma diferente dos outros filhos porque
eu me sinto culpada. Eu me lembro de ter vivido a gravidez dele entre
sentimentos de alegria e angústia. Eu me preocupava com os sintomas mais
simples, eu nem queria me mover para o proteger. Dos meus quatro filhos, ele
foi quem mais chorou.“
O mais velho também costuma ser o mais ponderado.
João Maria Plaud, diretor aposentado de uma escola e pai, explica: “Os pais querem dar tudo para os mais velhos,
tudo o que tiveram durante a infância e tudo o que foram privados. Então
colocamos no primogênito uma pressão muito forte. Isso explica muitas vezes sua
seriedade, seu lado introvertido e essa atitude constante de atenção”.
O primeiro filho tende a se adaptar à imagem que seus
pais projetaram sobre ele. Antes mesmo de chegar, diz Joana
Brossard, psicóloga clínica de crianças, a criança já está realizando um
projeto dos pais. Muitas vezes, ele próprio é confundido com um projeto, que
veio ao mundo a fim de substituir uma outra coisa que os pais não conseguiram
alcançar.
Outra constante do personagem mais velho é a
extrema sensibilidade. Ele é o primeiro a traçar a rota para os outros irmãos.
Recebeu tudo com força total e também sentiu os pequenos infortúnios diários
com mais força.
Clemence é uma primogênita, casado com um
primogênito, neta de dois primogênitos. Ela sabe do que está falando: “Todos os primogênitos têm uma sensibilidade
muito complicada, sem dúvida devido à extrema atenção que os pais prestam ao
primeiro filho. Porque descobrem tudo com ele, cometem muitos erros“.
Esse aumento da sensibilidade frequentemente
desperta na mãe um grande desejo de proteção. Cuidado! A criança sente essa
preocupação e suporta esse peso. Clemence percebeu isso com seu filho
Romain. “Ele percebe muito bem
que eu quero protegê-lo, e por isso ele parou de me contar sobre suas
dificuldades, e quando eu as conheço, ele tenta me tranquilizar“.
Privilégios que se tornam pesos
Os pais querem ter orgulho do filho mais velho e
querem que ele seja perfeito. Eles tendem a fazê-lo realizar muitas atividades,
sem a liberdade de descobrir por si mesmo seu profundo desejo. Com o primeiro
filho, os pais ainda estão na fase teórica da educação. Eles leram sobre o
assunto e desenvolveram sua pedagogia, ou então querem reagir à maneira como
seus pais os criaram.
A criança percebe essas tentativas e erros ainda
mais quando, para acalmar suas próprias preocupações educacionais, os pais
geralmente tentam se explicar. Para Joana Brossard, os pais raciocinam demais:
“Os pais tendem a “psicologizar”
demais a educação. Eles corrigem o filho e depois ficam se explicando por cinco
minutos“. Uma atitude paradoxal que deixa a criança inquieta.
A pressão é ainda maior para o filho quando ele
também é o mais velho dos netos. Esse fato concentra nele um peso de projetos e
desejos que tornam tudo muito pesado.
Quando o casal de pais é muito jovem, os avós
querem ajudar e se mostrar mais presentes. É uma faca de dois gumes. João Maria
Plaud aconselha: “Nesse cenário, os
avós devem ser discretos para não sufocar a criança. Devem evitar, assim, se
impor entre os pais e a criança“.
A chegada do primogênito também confronta os pais
com sua própria infância e desperta uma série de lembranças. Não é incomum que
um dos pais tenha experiências de infância quando o filho mais velho nasce.
Pode haver um pouco de ciúme, como se fosse difícil
ter compaixão de seu filho, quando não se foi criado com compaixão. Quando o
mais velho nasce, muitas curas internas também ocorrem. Todas essas situações e
tensões vão afetando a criança.
Uma responsabilização excessiva
Com um primogênito, certas armadilhas devem ser
evitadas. Para os pais, a primeira tentação seria a responsabilização
excessiva. Por exemplo, quando a mais velha é uma menina de uma família
numerosa, ela desempenha principalmente o papel de segunda mãe.
Se o filho mais velho é agressivo com os menores, é
porque você é muito exigente com ele. Frequentemente, incapaz de enfrentar os
pais, ele o faz através dos irmãos. O segundo filho é então imprensado entre o
mais velho e o caçula, e o terceiro cresce sozinho.
Existe um refrão que é bem conhecido pelos mais
velhos e um pouco pesado demais: “Dê
um bom exemplo aos seus irmãos!”.
A primeira pergunta a se fazer é: será que nós
estamos dando o exemplo? O exemplo dos pais deve ser suficiente, acredita João
Maria Plaud. Você precisa confiar no seu filho, dar-lhe responsabilidades,
mostrar que ele é valorizado, sem ficar pedindo que ele de o exemplo.
Em vez de exigir um bom exemplo, seria benéfico
apresentar o exemplo de maneira positiva, não para dar uma ordem, mas para
confiar nas qualidades da criança: “Você
é alegre, pode ensinar isso aos seus irmãos. Esta é uma qualidade a ser compartilhada“.
Cuidado para não colocar expectativas muito altas
ao tentar moldar demais o seu filho. Muitas vezes, os pais que seguem a fé têm
uma imagem mítica da boa família cristã e desejam forçar a barra, mais para
corresponder a essa imagem entre os amigos do que para o bem da criança.
Especialmente porque ele é o mais velho, e
esperamos que outros filhos o imitem, desejamos criar um filho modelo. Contudo,
dessa forma o inibimos e impedimos que ele se torne ele mesmo. Esse é o perigo
da idealização. A criança pode facilmente se decepcionar e se desanimar.
O primogênito tem o direito de ser diferente
O filho mais velho deve ter a certeza de que é
amado pelos pais, mesmo que tenha gostos diferentes. Muito cedo, ele deve
perceber que tem o direito de ser diferente, de ser ele mesmo.
“É
libertador para os mais velhos – diz Olivia, mãe de três filhos – se o fizermos perceber que ele pode
ser criativo e ir além dos pais nas áreas que ele desejar. Mas sempre com
respeito por quem o precedeu”.
Para agradar seus pais, Michel sempre seguia
conforme os desejos deles. “Só que,
quando atingi uma meta, eu era imediatamente fixado em outra“, lembra
ele. Ele sentia que a vida era uma pista de obstáculos e que ele nunca seria
bom o suficiente. Essa atitude foi transferida para o seu relacionamento com
Deus.
Ele multiplicava seus esforços para agradar a Deus
mas tinha a impressão de que esse Deus exigente nunca estava feliz e
satisfeito. Se você responsabiliza demais uma criança, ela entra em
conformidade com o que lhe é pedido, mas também corre o risco de ser incapaz de
fazer suas próprias escolhas.
Faça desta posição de primogênito uma vantagem
Geralmente, o pai ou a mãe tomam o filho mais velho
como confidente. Ele é mais maduro, sério e por isso temos a tendência de
procura-lo sempre para ser nosso confidente, porque temos a necessidade de
falar com alguém.
“Quando o
filho é o confidente, explica Joana Brossard, ele é tomado como um adulto com
quem gostaríamos de compartilhar nossas preocupações. Ele é convidado a abrir
os ouvidos para coisas que ele ainda não tem a capacidade de suportar ou
discutir. É uma maneira de lhe roubar a infância”.
Para não cair neste descuido é preciso às vezes
deixar as crianças “irracionais”. Na verdade, eles ainda não têm as habilidades
de raciocínio dos adultos.
Valorizar seu filho mais velho é reconhecê-lo em
sua posição de primogênito: “Olivia
acredita que seria melhor contrabalançar as responsabilidades que são confiados
a ele, dando-lhe mais oportunidades de se afirmar. Quando ele percebe que
alguém o olha com respeito, ele se sente mais livre para ser ele mesmo.”
Isso requer certas permissões: “Podemos autorizá-lo a ir para a cama meia
hora depois dos irmãos por exemplo, aconselha João Maria Plaud e, assim, reservamos também um tempo
para conversar com ele”. Também requer uma visão positiva dele: “Nunca deixe de dizer ao seu primogênito
palavras sobre suas qualidades. Você exige muito dele, para torná-lo um homem
ou mulher admirável. Portanto, saiba mostrar-lhe sua admiração pelo melhor que
ele porta em si”.
Florence Brière-Loth
Edição Portuguese
Comentários
Postar um comentário