Como ser mais paciente?
30/09/25
Exercícios bem concretos para você
exercitar a paciência e se parecer cada vez mais com Jesus
A caridade é paciente (1Cor 13,4)
O grande alicerce da vida cristã é o primeiro
mandamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua
alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”. E o segundo
mandamento é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Cf. Mc 12,29-30).
Amar a Deus e amar o próximo como a nós mesmos,
melhor ainda, como Cristo nos amou – amai-vos uns aos outros como eu vos amei;
ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos (Jo 15,12-
13) –, este é o pilar firmíssimo da vida do cristão, este é o ideal de vida que
nos faz sintonizar com Deus, e andar pelas suas veredas.
Quando procuramos andar por essas veredas – unidos
a Cristo, com o auxílio da graça do Espírito Santo –descobrimos que a única
coisa que as pessoas nos estão pedindo a toda a hora (mesmo quando não nos
pedem nada) é precisamente o nosso amor: um carinho que seja reflexo do
amor misericordioso de Jesus, que seja capaz de compreendê-los, de
desculpá-los, de perdoá-los, de dar-se sem cálculos nem mesquinharias.
Quando nos decidimos a ser generosos assim com os demais, ficamos pasmados ao
perceber que cada vez há menos coisas que nos contrariam e nos fazem perder a
paciência. E isto é assim porque cada vez se torna menor o egoísmo, esse vício
demolidor do amor.
Façamos uma pequena experiência. Escrevamos em
forma de lista todas
as coisas que, na última semana, nos aborreceram e mexeram com a nossa
paciência. A seguir, diante de cada item, anotemos uma pergunta: que tipo de
amor (de amor generoso e sacrificado) Deus me pedia aí? E prossigamos a
experiência, imaginando: se eu tivesse vivido naquele momento o tipo certo de
amor, teria havido impaciência? A resposta seria, naturalmente, “não”. Não
haveria impaciência se eu tivesse amado. Talvez possamos retrucar: “Mas é que
eu não sou santo” – o que é verdade –, mas o que não poderemos dizer nunca
honestamente é que ali havia uma contrariedade que o amor não podia superar.
Na realidade, todos os exercícios de paciência
consistem em exercícios de amor. Conheço várias pessoas – graças a Deus conheço
muita gente boa – que, ao voltarem a casa com toda a carga do cansaço do dia,
vão rezando o terço no trânsito ou carregam consigo um livro de pensamentos
espirituais, para lerem e meditarem uma ou outra frase ao pararem no semáforo
demorado ou no engarrafamento incontornável.
Ao mesmo tempo, vão espremendo os seus cansados
miolos, tentando concretizar: “Que iniciativa, que detalhe, que palavra posso
preparar para que a minha chegada a casa seja um motivo de alegria para a minha
mulher, ou para o meu marido, e para os meus filhos?” E, assim, homens e
mulheres cujo retorno ao lar era antes soturno e irritado, tornam-se – em
virtude do amor a Deus e aos outros, que se esforçam por cultivar – corações
pacientes, que espalham a paz e a alegria à sua volta.
Exercícios de paciência
É inútil pensar que existem “truques” ou “técnicas”
que sirvam para viver a paciência, se o egoísmo ainda tem o ninho no nosso
coração. Com esse hóspede indesejável, não adianta qualquer tentativa. Mas se
há amor, então vão-nos ocorrendo mil maneiras de exercitar a paciência, bem
práticas, simples, bonitas… e eficazes.
Quem tem experiência da luta por viver com Deus,
sabe que o amor cristão se mexe movido por duas asas: a da oração e a da
mortificação. Por isso, todo o exercício da virtude cristã da paciência
comportará necessariamente o movimento de uma dessas asas ou, o que será mais
frequente, de ambas ao mesmo tempo.
Em primeiro lugar, a oração. O cristão paciente
procura falar antes com Deus do que com os homens. Quando se sente à beira de
uma crise de impaciência – pois ia retrucar, censurar, gritar, queixar-se… –,
faz o esforço de se calar. Alguns recomendam contar até vinte, antes de abrir a
boca.
Melhor será fazer o sacrifício de guardar silêncio,
de sair, se for preciso, de perto do foco do atrito (ir para outro cômodo,
etc.), e de rezar bem devagar alguma oração, como por exemplo o Pai-Nosso
(sublinhando mentalmente as palavras-chave que acordarão a fé e o amor e,
portanto, trarão calma e lucidez à alma: Pai, …seja feita a vossa vontade…,
perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido…).
Após essa oração, que pode ser também uma sequência
de jaculatórias, de invocações breves, pedindo paciência a Deus, e já com a
alma mais tranquila, poderemos discernir o que nos convém fazer: se é deixarmos
passar, sem mais, aquele dissabor, aquela contrariedade; ou se é praticar o que
lemos no n. 10 do livro Caminho: “Não repreendas quando sentes a indignação
pela falta cometida. – Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. – E
depois, tranqüilo e com a intenção purificada, não deixes de
repreender”(Josemaría Escrivá, Caminho, 7ª ed., Quadrante, São Paulo, 1989);
ou, ainda, se é tomar a iniciativa de ter um gesto simpático – um afago para a
esposa ou a filha; uma palavra amável, que quebre o gelo com aquele que nos
causou mal-estar. Não duvidemos de que o esforço de guardar silêncio, unido ao
esforço de fazer oração, sempre conduzirá os que lutam com boa vontade para a
paciência, para a paciência real e prática.
Ao lado da oração, mas sem largá-la da mão, o
cristão exercita a paciência por meio da prática voluntária, consciente,
amorosa, de um sem-fim de pequenos sacrifícios, que são uma gota de paz, de
afabilidade, de bondade, sobre as incipientes ebulições da impaciência. Talvez
não seja demais lembrar, a título de sugestão para o leitor, algumas dessas
mortificações cristãs, que diariamente podemos oferecer a Deus:
1) fazer o esforço de escutar pacientemente a todos
(ao menos durante um tempo prudencial), sem deixar que se apague o sorriso dos
lábios, nem permitir que os olhos adquiram a inexpressiva fixidez, prelúdio de
bocejo, de um peixe;
2) não andar comentando a toda a hora e com todos,
sem razão plausível nem necessidade, as nossas gripes, as nossas dores de
cabeça ou de fígado nem, em geral, qualquer outro tipo de mal-estar pessoal:
propor-nos firmemente não nos queixarmos da saúde, do calor ou do frio, do
abafamento no ônibus lotado, do tempo que levamos sem comer nada…
3) renunciar decididamente a utilizar os verbetes
típicos do Dicionário da Impaciência: “Você sempre faz isso!”, “De novo,
mulher, já é a terceira vez que você passa um cheque sem fundos!”, “Outra
vez!”, “Já estou cansado”, etc., etc.;
4) evitar cobranças insistentes e antipáticas, e
prontificar-nos a ajudar os outros, usando mais vezes do expediente afável de
lembrar-lhes as coisas que omitiram ou atrasaram e de estimulá-los a fazê-las;
5) não implicar – não vale a pena! – com pequenos
maus hábitos ou cacoetes dos outros, mas deixá-los passar como quem nem repara
neles: mania de bater na cadeira ou de tamborilar com os dedos na mesa,
tendência para ler por cima do ombro o jornal que nós estamos lendo, de fazer
ruído com a boca, de cantarolar horrivelmente enquanto se lê ou se trabalha…
Lembro-me bem da “guerra fria” que se travou entre uma filha cinqüentona e um
pai quase oitentão, e na qual fui chamado a intervir como mediador. Ela
sustentava que o pai vivia gemendo, ele retrucava dizendo que “não, senhora,
estou é cantarolando”… E, se não tivesse havido a intervenção de uma “potência
neutra”, o atrito poderia ter terminado muito mal;
6) saber repetir calmamente as nossas explicações a
quem não as entende e se mostra porfiadamente obtuso; ter a calma de partir do
bê-á-bá para esclarecer assuntos técnicos a pessoas que os desconhecem e não
têm vocação para lidar com cálculos e máquinas;
7) não buzinar na rua quando alguém reduz a marcha
do veículo e estaciona inopinadamente; por sinal, se o leitor deseja um bom
conselho para praticar a paciência no trânsito, ofereço-lhe o seguinte, que já
deu muito bons resultados: nunca olhe para a cara do “agressor”, do motorista
“barbeiro”. Continue serenamente o seu percurso sem ficar sabendo se era homem
ou mulher, jovem ou velho: vai ver que é difícil ficar com raiva de uma sombra
indefinida; e se, além disso, passada a primeira reação, se lembra de rezar ao
Anjo da Guarda por ele/ela, para que se torne mais prudente, mais hábil ou
menos prepotente, melhor ainda;
8) por último, permito-me repisar a importância da
oração para adquirir a paciência, evocando a simpática surpresa de uma mãe
impaciente que se tornou “rezadora”. Aquela mulher de nervos frágeis tinha-se
proposto rezar a Nossa Senhora a jaculatória: “Mãe de misericórdia, rogai por
nós (por mim e por esse moleque danado)” a cada grito das crianças. Quando
começava a ferver uma crise conjugal, tinha igualmente “preparada” uma oração
própria que dizia: “Meu Deus, que eu veja aí a cruz e saiba oferecer-Vos essa
contrariedade! Rainha da paz, rogai por nós!” E quando ia ficando enervada e
ríspida, rezava: “Maria…, vida, doçura e esperança nossa, rogai por mim!”
Depois comentava com certo espanto: – “Sabe que dá certo? Fico mais calma!” E
ficava mesmo.
Como vemos, nem essa boa mãe, nem as outras pessoas
acima evocadas como exemplo, conseguiam viver a paciência à base de truques de
“pensamento positivo”, mas de esforços de fé e de amor cristão. De maneira que,
sem terem a mínima noção disso, todas elas estavam dando a razão a São Tomás de
Aquino que, com o seu habitual laconismo, sintetizou assim a questão: “É
evidente que a paciência é causada pelo amor”, ou, por outras palavras que
traduzem com igual precisão as do santo: “Só o amor é causa da paciência”(Suma
Teológica, II-II, q. 136, a. 3, c.).
(Adaptação de um trecho do livro de F. Faus: A
paciência. Via Padre Faus)
Edição Portuguese
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