Sofrimento é castigo de Deus?
19/09/25
E os males lançados contra nós pegam ou
não?
Há quem pense que os males físicos ou morais são
castigos de Deus. Isso, contudo, não é real, conforme ficará claro neste
artigo.
Diga-se, logo de início, que o mal é, por definição
filosófica, a ausência de um bem necessário. Sim, ele (o mal) não tem
existência própria, mas nasce da falta de algo que deveria existir, e não
existe ou, então, existe, mas falha em algum momento. Assim, as trevas só são
percebidas quando falta luz, a doença aparece na falta de saúde, a debilidade
vem no declínio das forças etc. Nem toda ausência é, no entanto, má: a carência
de olhos em uma árvore não é um mal (eles não lhe são necessários), mas no ser
humano, por exemplo, é (ele precisa dos olhos).
O mal pode ser físico ou moral. É físico se há
carência material (doenças, misérias, cataclismos etc.) e moral quando decorre
de desvios da reta ordem no comportamento do ser humano, única criatura
responsável por seus atos, fazendo nascer os vícios, pecados, imperfeições etc.
Em ambos os casos, provêm da criatura: no mal físico, vem da própria natureza
dos seres (um vulcão, por exemplo); no plano moral, surge do abuso da liberdade
humana (dá-se, por exemplo, aval ao pecado do aborto).
Aqui, surge uma questão crucial: É Deus o autor dos
males? Por que não os impede? – A Filosofia e a Teologia respondem que Deus –
Perfeito, Absoluto e Eterno – não pode ser o autor, direto ou indireto, do mal.
Este decorre sempre da criatura, imperfeita, relativa e temporal. O Senhor pode
impedir todo mal, mas não quer fazê-lo a fim de não interferir,
artificialmente, nas leis naturais. Não permitiria, no entanto, o mal, se não
fosse para tirar dele bens ainda maiores, de acordo com Santo Agostinho de
Hipona (Enchiridion, 38). Sim,
todo sofrimento, por mais penoso e incompreensível que seja, é uma escola de
crescimento humano e espiritual a quem dele sabe aproveitar (cf. Richard
Gräff. O cristão e a dor.
S. Paulo: Quadrante, 2007).
Alguém indagaria: se Deus não castiga, por que o
Antigo Testamento tem várias passagens dando a entender o contrário? – Porque,
no pensamento comum da época, não se distinguia o que Deus fazia ou apenas
permitia acontecer. De tanto querer exaltar a Deus (ao contrário de alguns,
hoje, que desejam desprezar o Senhor) faziam-No autor de tudo, até do mal.
Isso, no entanto, não é real, conforme foi sendo, dentro da lenta e sábia
pedagogia da Revelação, entendido (cf. E. Bettencourt, OSB. Descobrindo o Antigo Testamento. Rio
de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2005, p. 101-112). O mal físico ou moral provém
das falhas das criaturas limitadas, como dito.
O ser humano, no entanto, pode punir a si mesmo por
falhas próprias. Seria o caso de alguém que prefere ser fumante mesmo sabendo
dos riscos que o cigarro traz à saúde. Um câncer ou enfisema pulmonar não
viriam como consequência do seu ato de fumar? O desequilíbrio no meio ambiente
não é uma resposta da natureza às agressões a ela infringidas? Há um
provérbio que diz: “Deus perdoa sempre, o ser humano, às vezes, a natureza
nunca”. Isso ajuda a entender melhor alguns (mas nem todos) males recorrentes.
Mesmo com tudo isso posto, há quem imagine que a
doença ou outros incômodos são castigos devido a algum pecado cometido pela
própria pessoa ou por um antepassado. O Evangelho desmente essa concepção:
diante do cego de nascença, perguntam a Jesus: quem pecou, o cego ou os pais
dele, para que ele nascesse sem enxergar? – Jesus diz que nem ele, nem os pais
pecaram (o problema nada tinha a ver com o pecado). Mais: aquele mal (a
cegueira) se converteu em bem (a manifestação da glória divina com a cura do
cego), cf. Jo 9,1-2.
E os males lançados contra nós pegam ou não? – Não pegam. Podem atingir a quem tenha medo deles, não por terem força em si mesmos, pois não têm poder nenhum, e, sim, porque a própria pessoa se sugestiona (“encuca”) e crê que o mal é mais forte que Deus. Ora, isso é pecado. Nada pode vencer a Deus. Portanto, coragem! Não se importe com o mal, pense no bem, tenha fé e nada o (a) atingirá. Isso é o que Deus mesmo promete em sua Palavra (cf. Rm 8,31-37).
Edição Portuguese
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