Razões do sucesso da devoção à Santíssima Virgem
30/08/25
Uma leitura espiritual para alimentar
sua alma de amor a Maria
As maravilhas da devoção a Maria não podem ser
explicitadas inteiramente por nenhuma análise. Nenhuma descrição, nenhum
raciocínio pode dar dela uma idéia adequada…
Razões e analogias ajudam a compreender
Um jovem teólogo – M. Neubert – analisa as razões,
ou melhor, as analogias de ordem natural que nos ajudam a compreender o sucesso
ou a eficácia da devoção a Santíssima Virgem. Pois a devoção a Nossa Senhora
leva todos a bom êxito. Constitui um axioma católico que Ela é para todo mundo
um meio seguro de santificação.
A razão fundamental disso, a única razão evidente,
é sem dúvida a vontade de Deus. Tendo Deus querido dar-nos Jesus Cristo por
meio da Virgem Santíssima – diz Bossuet – esta ordem não muda mais, e os dons
de Deus são irrevogáveis (cf. Rm 11, 29). Sempre será verdade que, havendo
recebido através dEla o princípio universal da graça, recebamos também por seu
intermédio as diversas aplicações desse dom em todos os variados estados dos
quais se compõe a vida cristã.
Mas, a par desta explicação teológica,
sobrenatural, que examina as coisas do ponto de vista divino, nada impede que
se procure uma explicação psicológica para confirmá-la.
Harmonia entre a devoção a Nossa Senhora e o
progresso da alma
Quais são, em nossa natureza, as harmonias entre a
devoção à Santíssima Virgem e o progresso de nossa alma?
Um primeiro fator de progresso humano é o esforço
pessoal: o difícil é induzir e sustentar o esforço da vontade. Nossa vontade é
movida pelas ideias, mas por ideias vigorosas que são ao mesmo tempo
conhecimento, sentimento e desejo. Ora, dessas ideias robustas, a mais forte é
aquela que se volta para uma pessoa amada. Quem ama voa, corre, alegra-se e
está disposto a tudo. Ora, ter devoção a Maria é amá-La, e amar Maria é fazer o
que Ela deseja e evitar o que Lhe desagrada.
Para quantas almas, por exemplo, o pensamento posto
em Maria constituiu a força pela qual triunfaram das tentações – de longe as
mais violentas e frequentes – contra a mais delicada das virtudes!
Encontramos uma confirmação disso numa experiência
de ordem humana. Um menino solicitado durante muito tempo pelas sugestões e
argumentos pérfidos de um companheiro perverso, acaba duvidando de seu dever e
vai deixar-se arrastar pelo mal.
Mas seus olhos cruzam-se com os de sua mãe: nesse
mudo entreolhar, ele sente a gravidade da ação que ia cometer e obtém a coragem
de fazer qualquer sacrifício para não entristecê- la.
Da mesma maneira, quantas almas assaltadas durante
longo tempo e estando a ponto de ceder, ao pensar em sua Mãe celeste, tão
afetuosa e amada, tão pura e desejosa de vê-las também puras, sentiram a
tentação desaparecer e uma força nova as armar contra o mal! Esse gênero de
vitórias costuma permanecer sepultado no segredo das consciências, mas como
elas são frequentes!
Forte contra as tentações, o pensamento posto em
Maria é igualmente eficaz para nos impelir na via do sacrifício. Não há santo
cuja vida não ofereça a esse respeito exemplos eloquentes.
Humildade e confiança em Deus
O esforço nos é solicitado por Deus, mas não basta.
Ele não passa de uma condição posta por Deus para recebermos a graça, a qual,
entretanto, nos vem unicamente dEle. Não devemos contar com nossos próprios
esforços, se quisermos que eles sejam coroados de êxito, mas sim com Deus.
Portanto, desconfiança de nós mesmos, ou humildade, e confiança em Deus.
Ora, a devoção à Santíssima Virgem favorece de modo
admirável esses dois sentimentos em nós.
Primeiramente, ela alimenta nossa humildade.
Pode-se, sem dúvida, ser humilde na presença de Deus sem invocar Maria; seria o
caso, por exemplo, de um protestante de boa fé para o qual invocar Maria é ofender
a Deus. Entretanto, também é certo que recorrer à intercessão de Maria para ir
a Deus, ir a Deus por meio de Maria, é reconhecer que não somos dignos de ir a
Ele por nós mesmos; é reconhecer nossa miséria, nossa indignidade diante dEle;
é fazer, mesmo sem se preocupar com isso, um ato de humildade.Eis o motivo pelo
qual São Luís Maria Grignion de Montfort insiste tanto nas relações entre a
devoção a Maria e a prática da humildade.
Ademais, alimenta nossa confiança em Deus. Cremos
na misericórdia divina, mas com uma fé frequentemente teórica que, na prática,
é exposta a graves deficiências. Ora, nesses momentos escuros pensar em Nossa
Senhora constitui para nós um facho de luz que nos dá confiança.
Não por julgarmos que a Santíssima Virgem tenha um
coração mais misericordioso que o do próprio Deus, mas sim por ser Ela como um
argumento vivo que nos toca mais de perto e nos ajuda a melhor apalpar a
misericórdia divina. Assim como ver Madalena aos pés de Jesus nos faz
compreender a bondade do Salvador mais do que o faria uma idéia abstrata de sua
divina perfeição, do mesmo modo a contemplação de Maria nos faz entender e
sentir, melhor do que todos os raciocínios, a misericórdia dAquele que nos deu
uma tal Advogada e uma tal Mãe.
Sem devoção a Nossa Senhora, a religião fica
tingida de racionalismo
Estas duas disposições – humildade e confiança –
constituem o próprio fundo do sentimento religioso. E é por esta razão que toda
alma religiosa compreende a devoção à Santíssima Virgem.
Uma alma que cessa de compreendê- la deixa de ser
religiosa ou está prestes a fabricar para si uma religião mais ou menos tingida
de racionalismo, tal como certos estoicos batizados que formaram sua
espiritualidade mais nos livros de moral dos estudos universitários do que nos
autores ascéticos. Para essas almas, o Cristo é mais um modelo que posa diante
delas, do que um amigo que vive nelas e as faz viver.Dia virá em que, após
inúteis esforços, elas reconhecerão por fim sua radical fraqueza e se lançarão
humildemente nos braços de Deus. Nesse dia, elas começarão também a se voltar
para a Santíssima Virgem.
Eis a razão pela qual tantas pessoas aos poucos
deixaram de ter uma religião e se contentam com uma simples filosofia: elas
eliminaram a devoção à Santíssima Virgem para irem mais diretamente – conforme
pensavam – a Jesus Cristo. Ora, perdendo de vista a Santíssima Virgem, eles
rapidamente perderam também a Jesus Cristo.
Diz o Cardeal Newman, em sua magnífica “Carta a
Pusey” sobre o culto a Nossa Senhora: “A Maria é confiada a guarda da
Encarnação. Assim, se olharmos para a Europa, verificaremos que as nações e os
países que perderam a fé na divindade de Cristo são precisamente aqueles que
abandonaram a devoção à sua Mãe, e que, por outro lado, os que mais se
distinguiram no seu culto guardaram a ortodoxia…”.
Traçando o mapa da devoção a Maria, teríamos
traçado o próprio mapa da expansão e da conservação da fé cristã, e isto não
apenas no século XIX nem a partir da Reforma, mas ao longo de toda a História
da Igreja, como concluirá o próprio Neubert em sua tese, no que toca aos
primeiros séculos cristãos, onde “em suma, toda a história das origens da
mariologia se apresenta como a história da defesa e da dilatação da
cristologia. A Mãe era a garantia do Filho, e a glória do filho começava a
jorrar sobre a Mãe”.
As grandezas de Maria só podem ser entendidas com
relação à Encarnação
O Evangelho é a vida de família com Deus. Ele será
chamado Emanuel: Deus conosco, Deus nosso Pai, Jesus nosso Irmão Primogênito,
vindo a nós para nos encontrar e nos reconduzir ao Pai. Mas nunca
compreenderemos melhor quanto Deus é nosso Pai, senão pensando na doce Mãe que
Ele nos deu. E jamais compreenderemos Jesus como nosso Irmão Primogênito, a não
ser contemplando- O junto de Maria, nossa Mãe comum. E assim como não devemos
isolar Jesus de Maria, não devemos isolar Maria de Jesus.
Maria nos ajuda a compreender Jesus. Não é possível
meditar os privilégios de Maria sem melhor entender seu Filho, de quem e por
causa de quem Ela os recebeu. Mas, reciprocamente, só em Jesus podemos entender
Maria: Jesus é toda a razão de ser de Maria, e esta não seria o que Ela é senão
em vista da Encarnação e da Redenção. Exaltar as grandezas de Maria sem mostrar
suas relações com a Encarnação é fazê-lo pela metade e dar a forte impressão de
gente extraviada. Eis o motivo pelo qual certos livros, certas tiradas sobre a
Santíssima Virgem deixam às vezes uma impressão de vazio, de insipidez ou de
hipérbole. Jamais correremos o risco de parecer hiperbólicos, ao falar de
Maria, se tivermos o cuidado de apresentá-La com seu Divino Filho. Mas querer
admirar Maria fazendo abstração de Jesus é coisa tão absurda quanto extasiar-se
com os esplendores da aurora num dia em que o sol esteja encoberto por nuvens
cinzentas.
Se quiséssemos passar em revista as virtudes
cristãs e toda a diversidade de nossos estados de alma e as fases de nossa vida
interior, poderíamos multiplicar indefinidamente os pormenores desses aspectos
psicológicos da devoção à Santíssima Virgem.
Resolvendo uma aparente objeção
Uma objeção, entretanto, se põe: não nos
arriscaremos, assim, a tirar desta devoção seu caráter divino e dar razão aos
protestantes, os quais pretendem que ela seja, não um dom do alto, mas um
produto desta terra? Ocorre exatamente o contrário, responde M. Neubert.
Uma tal adaptação da devoção a Maria a todas as
nossas aspirações religiosas é antes uma prova de sua origem divina: toda
devoção é feita para o homem, e quanto mais uma devoção responde às
necessidades do homem, mais ela tem chance de ser querida por Deus.
Aliás, esta objeção só pode afetar aqueles cuja
devoção a Maria sempre foi superficial. Os que verdadeiramente vivem desta
devoção percebem que não se pode, por uma simples análise psicológica, dar uma
explicação completa de seus maravilhosos efeitos, da mesma forma como não é
possível, pelas leis da luz e das cores, explicar o imponderável inefavelmente
belo e celeste que se vislumbra nos olhos de uma criança, da mesma maneira como
não se consegue, por meio da anatomia e da fisiologia, explicar o amor de uma
mãe pelo seu filho.
Algumas vezes, no momento de pôr-se o sol, o céu se
cobre de nuvens leves, quase transparentes, e margeadas por uma tonalidade
rósea, como nunca se vê no restante do dia. Depois, subitamente, essas nuvens
se entreabrem e o olhar mergulha maravilhado num mar brilhante feito de ouro
derretido, de um inigualável esplendor. Essa face voltada para o sol é que
explica a beleza da face inferior. O mesmo se passa com os fenômenos
religiosos. O psicólogo só pode descrever o que ele percebe na face inferior, a
face humana; entretanto, há uma outra face, a face voltada para o Sol divino, e
só esta pode explicar a beleza da face inferior.
As maravilhas da devoção a Maria não podem ser
explicitadas inteiramente por nenhuma análise. Nenhuma descrição, nenhum
raciocínio pode dar dela uma ideia adequada…
(Tradução, com adaptações, de L´Ami du Clergé, 1911, pp. 682- 684 – in “Revista Arautos do Evangelho”, n. 89, p. 34 à 36)
(via Gaudium Press)
Edição Portuguese
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