Arte e Cultura

Por que nossa cultura é tão insípida e o que fazer a respeito

31/08/25

O Papa São Gregório Magno nos dá um exemplo a seguir se quisermos retornar à beleza.

Parece-me que a nossa sociedade moderna sofre de falta de imaginação. Os filmes são todos sequelas de franquias com décadas de existência. A música pop soa sempre igual. As artes literárias estão estagnadas e os best-sellers são reescritas fantasmas das mesmas velhas histórias. Mesmo na Igreja, os novos edifícios paroquiais são insossos e desprovidos do esplendor do que a arquitetura sacra costumava ser. Os alunos estão, alegadamente, a usar IA para escrever os seus trabalhos e os professores estão, alegadamente, a usar IA para os corrigir. Toda a gente olha fixamente para os seus telemóveis. E sou só eu ou tudo, desde carros a móveis e cor de parede, é agora apenas um tom de azul e cinza? Para onde foram todas as cores e padrões? A criatividade imaginativa é uma sombra do que costumava ser.

Como podemos recuperá-la? A fonte da imaginação talvez não esteja onde as pessoas pensam. Não é o dom especial de alguns tipos criativos excêntricos com teorias exóticas que aprenderam na escola de arte. Todos nós temos faculdades imaginativas, e a imaginação não é apenas vital para a nossa felicidade, mas também surge de uma conexão espiritual profunda com Deus. Se quisermos recuperar nossa imaginação cultural, será necessário retornar à fé espiritual.

Somando por subtração

Um grande exemplo disso é o Papa São Gregório Magno, cuja festa é nesta semana. No século VI, durante seu pontificado, ele percebeu que a Igreja precisava de uma reforma litúrgica. Naquela época, a Santa Missa, como era celebrada em diferentes lugares, tinha orações e práticas litúrgicas bastante variáveis. Quando se trata de oração, há um equilíbrio delicado entre variação local e desordem. São Gregório achava que o pêndulo havia oscilado demais na direção da desordem. Muitas ideias e conceitos disputavam espaço litúrgico, tornando-se confusos, e costumes locais arraigados estavam se tornando distrações do propósito principal da Missa, que é o sacrifício eucarístico.

Ao simplificar a liturgia, São Gregório trouxe unidade e clareza às orações. Era quase como se ele tivesse encontrado uma pedra preciosa que ele então lapidou e poliu para que brilhasse ainda mais. A forma da Missa que ele deu à Igreja com suas reformas não acrescentou ou alterou nada que já estivesse lá. Ele alcançou adição por subtração.

Acho a reforma gregoriana fascinante porque não se tratava de adicionar mais conteúdo intelectual à liturgia. Não tornou as orações mais contemporâneas nem acrescentou explicações intelectuais. Em vez disso, concentrou-se no mistério central da Eucaristia. São Gregório queria que a beleza da Missa alcançasse poder imaginativo. Ele queria que o simbolismo antigo da liturgia cativasse todos os participantes e os conduzisse à própria vida de Deus.

Essencialmente, ele buscou uma reforma da imaginação.

Quanto mais nos perguntamos...

A imaginação é uma qualidade maravilhosa. Por meio dela, contemplamos mentalmente imagens que se estendem por dois mundos. As imagens são inicialmente formadas em nossas mentes por meio dos sentidos. Vemos, ouvimos, cheiramos, saboreamos e tocamos o mundo real ao nosso redor. As imagens começam na realidade física e formam imagens em nossa mente – um cordeiro, uma chama, vinho, pão – e essas imagens entram em nossa imaginação, onde são transformadas. O cordeiro se torna um sacrifício inocente, a chama, um amor consumidor, o pão, o próprio Corpo de Cristo a ser consumido, e assim por diante. Aquilo que existe no tempo entra no atemporal. Lembramos o passado, sonhamos com o futuro e fazemos conexões entre coisas individuais e reais e conceitos universais.

A imaginação humana, desde os primórdios, tem sido ativa. Por exemplo, existem desenhos antigos dentro de cavernas, antes da colonização das cidades ou da invenção da escrita, de touros e veados. Homens antigos já tinham visto esses animais na natureza e, em sua imaginação, eles passaram a simbolizar força, velocidade e beleza. Os animais se tornaram sagrados.

Por meio da imaginação, as criaturas individuais refletiam qualidades eternas. Esse reflexo divino é exatamente o que São Gregório buscou proteger em sua reforma litúrgica. Ele sabia que Deus não é um conceito intelectual, mas sim a Fonte da Personalidade e da Beleza. Isso significa que, além de conhecermos Deus intelectualmente, chegamos a conhecê-lo também por meio da imaginação. De fato, São Gregório chega a escrever: " Fazemos ídolos de nossos conceitos , mas a Sabedoria nasce da maravilha".

Em outras palavras, conceitos intelectuais só nos levam até certo ponto. Um pôr do sol, uma vista do topo de uma montanha, uma bela liturgia, uma criança brincando, um jardim, uma lua cheia, essas são experiências sensoriais que criam maravilhas. Quanto mais nos maravilhamos, mais nossa imaginação trabalha. Ela cria conexões com a Verdade. Tudo o que vivenciamos é um símbolo de uma ordem superior.

Foco em

Essa sempre foi a minha experiência. Quanto mais atento estou à maravilha imaginativa, melhor se torna meu relacionamento com Deus.

Em última análise, São Gregório compreendeu que a fonte da imaginação é a Eucaristia. Na Eucaristia, o símbolo imaginativo transmite o conhecimento perfeito do amor. É transformador, levando-nos como indivíduos ao amor universal de Cristo.

Se quisermos recuperar nossa criatividade imaginativa, se você, como eu, está confuso sobre por que nossa cultura se tornou tão superficial, a resposta é o retorno à Santa Missa em toda a sua beleza misteriosa e simbólica. Não precisamos explicá-la, intelectualizá-la ou torná-la mais contemporânea. Em vez disso, devemos nos concentrar, com clareza cristalina, em seu cerne poético e sagrado.

A imagem de Cristo torna sagradas todas as outras imagens e possibilita uma explosão de criatividade e beleza. É por isso que a Igreja construiu catedrais magníficas, compôs músicas assombrosamente belas, inventou universidades, instalou telescópios para examinar a lua e produziu grandes pinturas e esculturas. É assim que a recuperação da imaginação sagrada pode salvar nossa cultura. 

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